Quarta-feira, 25 de Agosto de 2010

Portugal de ontem e de hoje

O chamado "clube dos cinco", em 1884: da esquerda para a direita, Eça de Queiroz, Oliveira Martins, Anthero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro.

 

Descubra as diferenças...

 

"Estamos perdidos há muito tempo...

O país perdeu a inteligência e a consciência moral.

Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.

Os caracteres corrompidos.

A prática da vida tem por única direcção a conveniência.

Não há princípio que não seja desmentido.

Não há instituição que não seja escarnecida.

Ninguém se respeita.

Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.

Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.

Alguns agiotas felizes exploram.

A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.

O povo está na miséria.

Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.

O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.

A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.

Diz-se por toda a parte, o país está perdido!"

 

Eça de Queirós, Revista "Farpas" (1871)

 

 

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

 

[…] Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro […]

 

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

 

[…] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

 

Dois partidos […] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, […] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar…"

 

Guerra Junqueiro, "Pátria" (1896)

Buraco tapado por Cosmopolita às 13:09
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19 comentários:
De Cosmopolita a 29 de Agosto de 2010
Olá Maria. Por muito que lhe pareça o contrário, todos nós os que aqui comentámos, preferimos pensar no nosso país pela positiva, senão não nos afligíamos tanto.

É de facto um país muito bonito, com um céu e uma luz muito especial, com paisagens lindas, um mar espetacular, uma gastronomia e uns vinhos fora de série. Mas isso, só por si, não dá qualidade de vida às pessoas que lá vivem, como sabe. Senão pergunte ao mais de meio milhão de desempregados, aos que vivem abaixo do limiar de pobreza, aos sem abrigo, aos milhares de pessoas que têm de emigrar para longe.

É um facto que em todos os países, assim como em todos os partidos, há pessoas boas e más, honestas e desonestas, sérias ou oportunistas.

Para ajudar a levantar o país do chão, como diz, é imprescindível que cada um de nós participe na vida política, de uma maneira ou de outra, e não se demita de intervir do modo que achar mais conveniente e útil.
De Maria a 29 de Agosto de 2010
Boa tarde, Cosmopolita!

Desde que me foi dado votar, nunca faltei.
Votei e escolhi o que e quem via como mais adequado para pôr o meu país, no «bom caminho», no qual cada um se sentisse digno de ter nascido aqui.
Acredito que, ao longo de todos estes anos, houve homens e mulheres que sabiam fazer isso muito bem. O pior foi que não os deixaram.
No nosso trabalho acontece isto todos os dias. É difícil resistir.
Todos os dias, quando acordo, arregaço as mangas e vou dar o meu melhor.
Continuo a acreditar que nasci num país que tem potencial físico e humano para se distinguir no Mundo.

Maria
De Cosmopolita a 30 de Agosto de 2010
Tal como a Maria, também acredito que temos um potencial físico e humano que nos possa distinguir. Basta ver a forma como muitos portugueses, em diversas áreas e escalões do conhecimento, se distinguem...lá fora!

Infelizmente Portugal não é um país agradecido ou que saiba reconhecer esse valor aos seus.

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