Terça-feira, 31 de Julho de 2007

Ponto de encontro

Ingmar Bergman (14/07/1918 – 30/07/2007)

Ainda ontem, sem saber que falecia, tinha estado a escrever um (futuro) post em que mencionava, entre outros, este notável realizador.
Lembro-me de, na adolescência, quando passavam ciclos de filmes dele no cineclube de Lourenço Marques, me considerarem uma espécie de herege por não gostar de todas as películas sem restrições. Não gostava e ainda hoje não gosto. Como, salvo raras excepções, não gosto de todas as obras de outros realizadores, escritores, pintores, etc.
Mas há alguns dos filmes de Ingmar Bergman que me marcaram para sempre. Gostei especialmente de Morangos Silvestres, A Fonte da Virgem, O Sétimo Selo, A Flauta Mágica, baseado na ópera de Mozart, e O Ovo da Serpente, que é absolutamente magistral (e tão actual ainda!). Marcou-me em especial, um filme dele que se chama Cenas da Vida Conjugal, de 1973, do qual o Woody Allen fez um remake menor. Esse filme aborda o adultério, o divórcio subsequente do casal, ressentimentos e traumas inerentes, mas também, ao longo do desenrolar da história, as cumplicidades, a amizade e o amor profundo alicerçados nos dez anos de união dos dois personagens.
Numa entrevista sobre o filme Saraband, realizado 30 anos após o Cenas da Vida Conjugal, do qual é a continuação, o seu actor de culto Erland Josephson afirma o seguinte, a propósito desta pergunta que lhe faz o jornalista:
“Muitos realizadores tornam-se melancólicos e condescendentes com a idade. Bergman, pelo contrário, parece mais duro e pessimista do que nunca a respeito das relações sentimentais e familiares. Concorda?”
“Sim, mas há esperança no meio desse pessimismo e dessa amargura. O que Bergman diz em Saraband é que é muito difícil falarmos uns com os outros, abrirmo-nos uns aos outros, mas temos que continuar a tentar, tentar sempre. E essa tentativa é, em si, uma manifestação de optimismo.”
(Fonte: DN Online)

Numa época em que as relações monogâmicas de longa duração estão em crise, a mim, que sempre acreditei nelas, apetece-me destacar estas obras, que as enaltecem. Obras que um génio sensível, um clássico romântico, nos deixou num precioso legado.


Michelangelo Antonioni (29/09/1912 – 30/07/2007)

Viaja no mesmo dia que Bergman. Parte para outro sítio não palpável que não é a terra dos mortos, porque nenhum deles morrerá de verdade. Isto é apenas uma formalidade. Um check-out. Uma escala entre voos.
Representante incontornável da época de ouro do cinema italiano, Antonioni realizou também filmes que me acompanham na minha própria viagem. O Deserto Vermelho, A Noite, Le amiche , Blow-up , que é um filme extraordinário, etc. Também me entediava de vez em quando com os seus longos planos sem diálogos, mas no fim prevalecia uma sensação de beleza.
Como Bergman , embora cada um à sua maneira, é um realizador que foca bastante a crise dos sentimentos e as dificuldades de comunicação da sociedade burguesa, que retrata de forma por vezes impiedosa. Foi a sua forma de tentar ajudá-la a melhorar. E eu acho que conseguiu, através de uma obra que engrandece a Humanidade.

Buraco tapado por Cosmopolita às 18:46
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Segunda-feira, 30 de Julho de 2007

Últimos efeitos (de calor e álcool)

Havia pó, uma muito densa nuvem de pó e, dentro do pó, a casa. Num início de tarde de extremo calor o vento desfaleceu e pôde-se finalmente ver as pereiras que ladeavam a escadaria exterior do solar, assim como os três cães presos a elas por correntes, mortos de fome e sede. Foi nesse preciso momento que chegámos. De repente, estávamos lá, como aparições sobrenaturais, estáticas, de pernas e braços entreabertos, ombros retesados, lado a lado. Os cães já não ladravam há uns dias, mas assim que nos viram levantaram-se num salto e assassinaram-nos com o olhar. Começaram a ladrar furiosamente, espumando aos cantos da boca, escorrendo raiva pelos caninos, e apesar de ser incerto se nos consideravam comida ou cruéis, tive medo pelas duas razões.
Em todas as casas de que não me esqueci há uma figueira. E eu que nem gosto de figos. Nesta também. Entrei por debaixo dela, que envolvera o portão há muito, ou o espaço onde havia o portão de ferro forjado, agora caído sobre as raízes que desconjuntaram o muro onde se fixavam as charneiras. Nunca tirei os olhos dos cães, que davam esticões tresloucados às correntes, e eu não sabia quanto mais elas iam aguentar. Mas avancei. Avançámos, tu um passo atrás de mim. Se se soltassem ficaríamos retalhadas em segundos. Não havia para onde fugir. Não tínhamos a chave da casa e sabíamos que não havia ninguém para nos abrir a porta. Não conseguiríamos subir à figueira a tempo, quanto mais alcançar o carro, parado lá em baixo, no princípio do acesso.
Foi então que levei o primeiro tiro. Atingiu-me no antebraço esquerdo. Voltei-me com a força do impacto e dei de caras com os teus olhos emancipados das órbitas pelo choque e pela surpresa. Tentaste amparar-me, proteger-me. Acompanhaste-me na descida até ao chão. Deitei-me e tu apoiaste-me a cabeça no regaço. Os cães calaram-se. O velho apareceu, com a espingarda apontada a nós. Ninguém dizia nada. Não me doía, mas queimava. Silêncio. Silêeencio...
Não. Um telefone tocava. Tocava. Tocava. O velho também ouvia. Voltou lentamente a cabeça na direcção do som, mas não a arma. Olhou-me de novo. E BANG! Estremeci violentamente, tentando ao mesmo tempo perceber onde este me tinha atingido. Dobrei-me como uma mola e fiquei sentada.
Depois de recuperar o fôlego, sequei a testa com as costas da mão esquerda e desliguei o despertador com a direita.
Buraco tapado por Citadina às 18:33
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Sexta-feira, 27 de Julho de 2007

Sou só eu que acho?

Ligo a televisão. Procuro os noticiários portugueses. E lá estão, invariavelmente. Sejam as negociatas no futebol, as redes de pedofilia, as conspirações políticas, os compadrios da finança, as guerras sanguinárias pelo domínio do petróleo disfarçadas de cruzadas pela democracia, um aeroporto virtual que aparece e desaparece nos locais mais estranhos, uma monarquia parlamentar disfarçada de região autónoma de uma (so called) "república", os polícias feios, porcos e maus, os bandidos nos seus fatos Armani ...

Sou só eu que acho que os noticiários portugueses se assemelham demasiado a um episódio dos X-Files ?

Buraco tapado por Cosmopolita às 12:37
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Quinta-feira, 26 de Julho de 2007

Sabia.

BIP, BIIP!
Aviso de chegada de SMS no telemóvel.

"Ola fofnha! Td bem ctg?"

Número desconhecido (por mim), mas identificado.

"Quem és tu?"

"Sou um admirador teu e gstava deflar ctg se m kizeres dar o teu msn..."

"Foda-se! Era só o que me faltava!"

"...lol,mmm... K agressiva a menina, e eu com boas maneiras!"

"Olha, meu lindo, porque é que não vais brincar com os meninos da tua turma? E já que estás em idade escolar, aproveita para prestar um bocadinho mais de atenção nas aulas de Português. Acredita que te vai ser muito útil no futuro."

"lol lol !! mmm... sabias k és um bocado antipatica?"
Buraco tapado por Citadina às 15:38
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Quarta-feira, 25 de Julho de 2007

Questões de princípio

Vieram-me à cabeça as questões de princípio, que me ocorrem aliás com uma certa frequência, a propósito do post da Citadina "Vontade de insultar escroques", que deu origem a outro post da Duca, que eu comentei.

Uma das razões por que muitos portugueses se queixam muito, mas nada fazem para mudar as causas dessas queixas deve-se ao facto de 40 anos de fascismo e laxismo terem anulado neles a capacidade de lutar, quanto mais não seja por uma questão de princípio, pelos seus direitos. Não votam, não participam em actividades políticas a não ser por questões oportunistas, não se revoltam de uma maneira geral. Ou seja, falam, falam, falam, mas não dizem nada e fazem menos ainda.

Estou emigrada, porque me recuso a viver sem trabalhar, ou a sobreviver com uns míseros tostões, ou a depender da segurança social. Mesmo que isso me custe ter de viver longe das pessoas que amo. É a minha maneira de dizer não a um país que proletariza os seus quadros técnicos, enquanto apregoa que os trabalhadores portugueses precisam de formação! Há em Portugal milhares de quadros licenciados e doutorados que não têm emprego. Ou que recebem salários de miséria. Ou que trabalham como amanuenses.

O direito e a obrigação de trabalhar eram direitos e deveres fundamentais dos países socialistas. Porque o trabalho dignifica o homem e lhe é fundamental para a sua sanidade mental, para ser feliz. Hoje um emprego raramente se consegue por competência e/ou habilitações. Como em tudo o resto, e não só na Madeira, reina o compadrio.

O direito ao aborto foi já consagrado em lei. Que na prática não será cumprida. Ou que será, como tudo, apenas para quem possa pagar.

Lutar pelo direito à habitação é uma questão de princípio. Que não é respeitado. O direito à saúde e à educação também. Não sei se se lembram da canção do Sérgio Godinho “A paz, o pão, a habitação, saúde, educação…”?

Nenhum destes direitos é respeitado e são poucas as pessoas já que lutam por direitos tão fundamentais como estes. Como disse acima, quanto mais não seja, por questões de princípio. Pelo exercício dos seus direitos.

Fui educada por uns avós e uns pais notáveis nesse aspecto. Muitas vezes no desnorte da vida me oriento pelos exemplos que recebi deles e que tentei, de alguma maneira, transmitir aos meus filhos. Julgo que com alguns resultados.

Há muitos anos, estava a dizer a um colega, que a educação que me tinha sido transmitida e que eu tentava transmitir aos meus filhos, pequenitos na altura, os iria fazer falhar na vida. Os bons princípios não dão hoje de comer a ninguém!

Não denunciar. Ser leal. Ser honrada. Não recuar perante as adversidades. Enfrentar os meus medos. Ser persistente. Ser trabalhadora. Ser competente. Ser vertical. Cultivar o espírito. Aprender até morrer. Cumprir com as minhas obrigações de cidadã. Ser interveniente politicamente. Assumir responsabilidades. Ser verdadeiramente amiga. Não cultivar intrigas. Não ser vingativa. Não bajular. Ser frontal. Não subir na carreira à custa de atitudes indignas. Reflectir sobre o mundo.

E por mais que a vida me demonstre que eu devia ser o contrário de tudo isto, não consigo. Os princípios que me foram inculcados estão demasiado arreigados no fundo de mim mesma. E, por muito que pareça às vezes uma perda de tempo ou estupidez para quem me rodeia, uma questão de princípio mexe sempre comigo. Tenho de lutar pelos meus direitos. Por uma questão de princípio. É inevitável. Foi-me ensinado a não viver de joelhos!

Buraco tapado por Cosmopolita às 15:21
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Terça-feira, 24 de Julho de 2007

Vontade de insultar escroques

E hoje és tu, meu grandessíssimo burgesso, que mereces, e a tua família toda merece por ainda não te ter renegado, e os teus colaboradores mais (ou menos) directos merecem por permanecerem ao teu lado, alienados pelo despotismo e corrompidos pela impunidade, mas quem mais merece é o PSD, que é o teu pai político, que legitima a tua indecência, que exalta a tua vulgaridade e fecha os olhos ao teus desplantes boçais e delinquências várias. O Presidente da República também tem culpa, claro, ou não tivesse jurado, se bem me lembro, cumprir e fazer cumprir a Constituição em todo o território português, que em algum artigo diz, estou certa, que a lei é igual, em direitos e deveres, para todos.

Tu, no fundo, não passas de um marginal. Um marginal que infelizmente a polícia não trata como outros marginais iguais a ti. E eu cuspia-te na cara se não desconfiasse que gostarias.

O que te fizeram as mulheres madeirenses para as estares a ultrajar desta forma, diz lá, ó erro da natureza?

És um verme prepotente, um cacique da pior espécie, e eu vou-me regozijar quando desapareceres da face do planeta. Era só para dar conhecimento.
Buraco tapado por Citadina às 11:38
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Confirma-se:

Tornei-me insone.

Creio que a perturbação começou quando inadvertidamente reciclei a lista das compras.

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Buraco tapado por Citadina às 02:45
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Sexta-feira, 20 de Julho de 2007

Le Petit Prince

Um dos meus livros de cabeceira predilectos é uma obra que me marcou pelo ênfase que põe nas relações de amor e amizade, pela profunda ternura, persistência nos afectos, desapontamentos inerentes e compreensão das suas razões, responsabilização pelos que amamos, e que acabou por ser determinante na forma como me relaciono com as pessoas de quem gosto.

Trata-se de “Le Petit Prince” do Antoine de Saint-Exupéry, que, para além de um escritor notável, foi também piloto de aviação, e desapareceu durante uma missão de reconhecimento em 31 de Julho de 1944 no mar Mediterrâneo. O narrador desta história é um aviador que caiu no deserto e que, de certa maneira é o próprio Saint-Exupéry.

Capítulo XX



Mais il arriva que le petit prince, ayant longtemps marché à travers les sables, les rocs et les neiges, découvrit enfin une route. Et les routes vont toutes chez les hommes.

- Bonjour, dit-il.

C'était un jardin fleuri de roses.

- Bonjour, dirent les roses.

Le petit prince les regarda. Elles ressemblaient toutes à sa fleur.

- Qui êtes-vous? leur demanda-t-il, stupéfait.

- Nous sommes des roses, dirent les roses.

- Ah! fit le petit prince...

Et il se sentit très malheureux. Sa fleur lui avait raconté qu'elle était seule de son espèce dans l'univers. Et voici qu'il en était cinq mille, toutes semblables, dans un seul jardin!
"Elle serait bien vexée, se dit-il, si elle voyait ça... elle tousserait énormément et ferait semblant de mourir pour échapper au ridicule. Et je serais bien obligé de faire semblant de la soigner, car, sinon, pour m'humilier moi aussi, elle se laisserait vraiment mourir..."
Puis il se dit encore: "Je me croyais riche d'une fleur unique, et je ne possède qu'une rose ordinaire. Ca et mes trois volcans qui m'arrivent au genou, et dont l'un, peut-être, est éteint pour toujours, ça ne fais pas de moi un bien grand prince..." Et, couché dans l'herbe, il pleura.

***

Capítulo XXI



C'est alors qu'apparut le renard.

(…)

- Qui es-tu? dit le petit prince. Tu es bien joli...

- Je suis un renard, dit le renard.

- Viens jouer avec moi, lui proposa le petit prince. Je suis tellement triste...

- Je ne puis pas jouer avec toi, dit le renard. Je ne suis pas apprivoisé

- Ah! Pardon, fit le petit prince.

Mais après réflexion, il ajouta :

- Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?

- Tu n'es pas d'ici, dit le renard, que cherches-tu?

- Je cherche les hommes, dit le petit prince. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?

- Les hommes, dit le renard, ils ont des fusils et ils chassent. C'est bien gênant! Ils élèvent aussi des poules. C'est leur seul intérêt. Tu cherches des poules?

- Non, dit le petit prince. Je cherche des amis. Qu'est-ce que signifie "apprivoiser"?

- C'est une chose trop oubliée, dit le renard. Ca signifie "Créer des liens..."

- Créer des liens?

- Bien sûr, dit le renard. Tu n'es encore pour moi qu'un petit garçon tout semblable à cent mille petits garçons. Et je n'ai pas besoin de toi. Et tu n’as pas besoin de moi non plus. Je ne suis pour toi qu'un renard semblable à cent mille renards. Mais, si tu m'apprivoises, nous aurons besoin l'un de l'autre. Tu seras pour moi unique au monde. Je serai pour toi unique au monde...

- Je commence à comprendre, dit le petit prince. Il y a une fleur... je crois qu'elle m'a apprivoisé...

(…)

Mais le renard revint à son idée :

- Ma vie est monotone. Je chasse les poules, les hommes me chassent. Toutes les poules se ressemblent, et tous les hommes se ressemblent. Je m'ennuie donc un peu. Mais si tu m'apprivoises, ma vie sera comme ensoleillée. Je connaîtrai un bruit de pas qui sera différent de tous les autres. Les autres pas me font rentrer sous terre. Le tien m'appellera hors du terrier, comme une musique. Et puis regarde! Tu vois, là-bas, les champs de blé? Je ne mange pas de pain. Le blé pour moi est inutile. Les champs de blé ne me rappellent rien. Et ça, c'est triste! Mais tu as des cheveux couleur d'or. Alors ce sera merveilleux quand tu m’auras apprivoisé! Le blé, qui est doré, me fera souvenir de toi. Et j'aimerai le bruit du vent dans le blé...

Le renard se tut et regarda longtemps le petit prince:

- S'il te plaît... apprivoise-moi! dit-il.

- Je veux bien, répondit le petit prince, mais je n'ai pas beaucoup de temps. J'ai des amis à découvrir et beaucoup de choses à connaître.

- On ne connaît que les choses que l'on apprivoise, dit le renard. Les hommes n'ont plus le temps de rien connaître. Ils achètent des choses toutes faites chez les marchands. Mais comme il n'existe point de marchands d'amis, les hommes n'ont plus d'amis. Si tu veux un ami, apprivoise-moi!

- Que faut-il faire? dit le petit prince.

- Il faut être très patient, répondit le renard. Tu t'assoiras d'abord un peu loin de moi, comme ça, dans l'herbe. Je te regarderai du coin de l'oeil et tu ne diras rien. Le langage est source de malentendus. Mais, chaque jour, tu pourras t'asseoir un peu plus près...

Le lendemain revint le petit prince.

- Il eût mieux valu revenir à la même heure, dit le renard. Si tu viens, par exemple, à quatre heures de l'après-midi, dès trois heures je commencerai d'être heureux. Plus l'heure avancera, plus je me sentirai heureux. À quatre heures, déjà, je m'agiterai et m'inquiéterai; je découvrirai le prix du bonheur! Mais si tu viens n'importe quand, je ne saurai jamais à quelle heure m'habiller le coeur... il faut des rites.

- Qu'est-ce qu'un rite? dit le petit prince.

- C'est quelque chose trop oublié, dit le renard. C'est ce qui fait qu'un jour est différent des autres jours, une heure, des autres heures. Il y a un rite, par exemple, chez mes chasseurs. Ils dansent le jeudi avec les filles du village. Alors le jeudi est jour merveilleux! Je vais me promener jusqu'à la vigne. Si les chasseurs dansaient n'importe quand, les jours se ressembleraient tous, et je n’aurais point de vacances.

Ainsi le petit prince apprivoisa le renard. Et quand l'heure du départ fut proche :

- Ah! dit le renard... je pleurerai.

- C'est ta faute, dit le petit prince, je ne te souhaitais point de mal, mais tu as voulu que je t'apprivoise...

- Bien sûr, dit le renard.

- Mais tu vas pleurer! dit le petit prince.

- Bien sûr, dit le renard.

- Alors tu n'y gagnes rien!

- J'y gagne, dit le renard, à cause de la couleur du blé.

Puis il ajouta :

- Va revoir les roses. Tu comprendras que la tienne est unique au monde. Tu reviendras me dire adieu, et je te ferai cadeau d'un secret.

Le petit prince s'en fut revoir les roses.

- Vous n'êtes pas du tout semblables à ma rose, vous n'êtes rien encore, leur dit-il. Personne ne vous a apprivoisé et vous n'avez apprivoisé personne. Vous êtes comme était mon renard. Ce n'était qu'un renard semblable à cent mille autres. Mais j'en ai fait mon ami, et il est maintenant unique au monde.

Et les roses étaient gênées.

- Vous êtes belles mais vous êtes vides, leur dit-il encore. On ne peut pas mourir pour vous. Bien sûr, ma rose à moi, un passant ordinaire croirait qu'elle vous ressemble. Mais à elle seule elle est plus importante que vous toutes, puisque c'est elle que j'ai arrosée. Puisque c'est elle que j'ai abritée par le paravent. Puisque c'est elle dont j'ai tué les chenilles (sauf les deux ou trois pour les papillons). Puisque c'est elle que j'ai écoutée se plaindre, ou se vanter, ou même quelquefois se taire. Puisque c'est ma rose.

Et il revint vers le renard:

- Adieu, dit-il...

- Adieu, dit le renard. Voici mon secret. Il est très simple : on ne voit bien qu'avec le coeur. L'essentiel est invisible pour les yeux.

- L'essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.

- C'est le temps que tu a perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.

- C'est le temps que j'ai perdu pour ma rose... fit le petit prince, afin de se souvenir.

- Les hommes on oublié cette vérité, dit le renard. Mais tu ne dois pas l'oublier. Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. Tu es responsable de ta rose...

- Je suis responsable de ma rose... répéta le petit prince, afin de se souvenir.

(Ilustrações originais e texto tirados daqui).

Buraco tapado por Cosmopolita às 11:43
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Quarta-feira, 18 de Julho de 2007

Fuga para a frente

Buraco tapado por Citadina às 16:50
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Sexta-feira, 13 de Julho de 2007

O Amor É Fodido

Começa hoje, com este título, a resposta ao desafio da Duca (e acaba quando calhar, desculpem lá, mas a minha vida não é mesmo isto...).

Não vale a pena dissertar muito sobre este livro. Os seguintes excertos são demonstrativos quanto baste.

"O amor é fodido. Hei-de acreditar sempre nisto. Onde quer que haja amor, ele acabará, mais tarde ou mais cedo, por ser fodido."

"Porque é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regressar a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo."

"Não te pedi nada. Não fui eu quem falou primeiro em ser feliz. No dia em que me falaste nisso estive até às cinco da manhã sem dormir."




"O Amor É Fodido" de Miguel Esteves Cardoso, Assírio & Alvim, 1994.

Buraco tapado por Cosmopolita às 12:12
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Quinta-feira, 12 de Julho de 2007

Humor (de) negro

Ao ler esta notícia o meu colega disse-me: "Está a ver Eng.ª, como há pessoas que, nunca tendo viajado ou entrado num avião, morrem num desastre aéreo?!"
 

 

Buraco tapado por Cosmopolita às 14:18
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Citações

"Lá estava a cama deles e, na parede, o quadro oval de onde Santa Brígida os olhava, sofredora e extática, coroada por um aro flamejante que, na imaginação infantil de Lucas, representava uma dor de cabeça."

em "Dias Exemplares" de Michael Cunningham, Gradiva, 2005

Buraco tapado por Citadina às 10:46
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Segunda-feira, 9 de Julho de 2007

Com um atraso considerável, eu sei...

Mas não posso deixar de manifestar a minha imensa pena pelo fim do Sociedade Anónima.
Foi um prazer enorme ir-vos lendo, senhoras.
Obrigada pelas gargalhadas que não contive, olhada de soslaio por colegas carrancudos.
Obrigada pela contundência, pela sinceridade, pela coragem, pela qualidade.
Voltem sempre.

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Buraco tapado por Citadina às 16:10
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Auto-ajuda é...

Comprar este livro. E lê-lo.

Buraco tapado por Citadina às 11:44
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Terça-feira, 3 de Julho de 2007

Excertos da memória - 2 (3ª e última parte)

Era um dia chuvoso que intensificava os odores e tornava o ambiente triste e poético. Mesmo ao meio-dia, os candeeiros a óleo continuavam acesos, fazendo parca frente a um céu de chumbo que se sustinha ameaçador um pouco acima das nossas cabeças. Os planos passavam por ir dar uma volta pelas redondezas, mas o táxi faltou e o tempo estava tão agreste que resolvemos abrigar-nos um pouco no único café aberto, aliás, o único café existente, que era também pensão, restaurante, e provavelmente a desoras, resguardo para encontros íntimos nos quartos do primeiro andar, mas isto pode ser só uma provocação do meu imaginário.

No chão do café saltavam sapos nos cantos contra as paredes, buscando uma saída que teimava em não se lhes revelar. Desejei que os tirassem dali, que me metiam um asco incontrolável, embora não parecessem incomodar mais ninguém e até divertir muito a minha irmã, que os caçava à paulada com um cajado que tinha tirado não sei de onde.

Um homem magro, muito moreno e de faces chupadas, vestindo um capote cinzento com uma pele de coelho à volta do pescoço acenou-nos de uma mesa e o meu pai disse-nos que aquele era o António, dêem-lhe um beijinho, filhas, o António e a Margarida fazem filmes de cinema. As bocas abriram-se-nos ligeiramente quando os olhos estacaram nuns aparelhos espalhados pelo chão aos pés da mesa. Máquinas de filmar, cabos e tripés, coisas que só tínhamos visto na televisão. Aquilo aliás, era com o que se fazia a televisão.

Só muito mais tarde me apercebi quem eram o António Reis e a Margarida Cordeiro, que se cruzaram diariamente connosco durante aqueles dias na escada da casa de Bemposta, sorrindo, fazendo-nos festas nas cabeças como as faziam aos cães, ou ignorando-nos por completo, enquanto dirigiam as filmagens de “Ana”, considerado entre os 25 melhores filmes do último quarto do século XX.

Creio, aliás, que após esse encontro, não saímos mais das escadas, eu e a minha irmã, esse corredor fascinante, por onde passavam os actores, os técnicos e outros desconhecidos, subiam e desciam holofotes, se fumavam os cigarros da concentração e se discutiam cenografias, técnicas de som e planos artísticos.
Nessa película se entrevê esta casa de que vos falo, esta terra inóspita, e se é presenteado com a poesia visual da dupla Reis / Cordeiro, essa gente ilustre de um lirismo tão tocante quanto era profundo o seu amor a Trás-os-Montes.

Hoje, a feérica iluminação pública, os transportes, as auto-estradas e toda essa máquina que é o progresso terão alterado aquela paisagem para sempre e feito bem às populações antes entrincheiradas no isolamento, mas às minhas memórias devastá-las-iam, pelo que não quero, não vou, não volto. São minhas e gosto delas assim, enevoeiradas, húmidas, a cheirar a fumo de lareira antiga, com sapos a saltar-me aos pés, com terror dos cães prontos a atacar-me ao virar de cada esquina, cheias de fantasmas e medos e risos e fábulas. Passaram três vertiginosas décadas entretanto, anos que mudaram tudo, todas as perspectivas, todas as vivências. Mas dentro de mim, num canto recôndito, aquele mundo ainda existe.

    António Reis

    António Reis com Marguerite Duras

    Reis dirigindo as filmagens de "Ana"

(fotos roubadas aqui)
Buraco tapado por Citadina às 16:44
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