No intuito de evitar outra gracinha como a que me fizeram os meus queridos vizinhos há três anos, quando me elegeram administradora do condomínio sem o meu voto, concordância, ou sequer presença, e com o peso do frete nos passos, lá me arrastei para fora do conforto do lar, tentando discernir algum aspecto positivo em não ir falhar a quarta reunião consecutiva de condóminos, já que os gajos fizeram o favor de acertar nas minhas férias "lá fora" nos três anos anteriores.
A sala de reuniões do condomínio, que, com muita lógica e sapiência, fica paredes meias com a casa do lixo, estava decorada com as cadeiras da pastelaria do lado. Forcei um ar muito interessado nos primeiros minutos, enquanto comia chocolate com 72% de cacau para não adormecer, até alguém informar o senhor sentado à minha direita que esta era apenas uma reunião "informal, de preparação para a Assembleia Geral" e que não tinham mencionado isso explicitamente na convocatória porque consideravam muito importante contar com a presença de todos para o que ali se ia discutir.
Eu repito: os gajos fazem reuniões de condomínio "informais", assim, só por desporto, para daqui a duas semanas levarmos com a verdadeira estucha, mas já irmos preparados!
O resto do tempo limitei-me a sorrir a todos fingindo que estava a ouvir perfeitamente o que cada um gritava do outro lado da sala numa frenética tentativa gesticulante de canalizarem as atenções para si próprios em detrimento de qualquer dos outros que gritavam ao mesmo tempo sobre outro assunto qualquer.
E ninguém falava da bomba. Da porra da bomba de água, que era a única coisa que me interessava. Quando me apercebi que o senhor ao meu lado já tinha recuperado do choque decorrente do anúncio da "informalidade" e já conseguia fazer o mesmo ar beatífico que eu, perguntei-lhe se ele ultimamente não tinha problemas com a pressão da água, ao que ele respondeu, pondo-se de pé e berrando: "-TENHO, TENHO!!! ISTO É URGENTE, MEUS SENHORES, EU JÁ QUASE NÃO CONSIGO TOMAR BANHO!!", o que teve o efeito positivo de calar toda a gente mas a consequência algo adversa de gerar uma tarefa conjunta que consistia em fazer uma lista exaustiva de todos os problemas que cada condómino entendia serem da responsabilidade do construtor para serem discutidos um a um na Assembleia Geral, "A Verdadeira".
E pronto, com toda a gente arrasada pela perspectiva de uma próxima reunião assim dentro de quinze dias, a actual administração deu por encerrado o deveras psicótico convívio "de preparação" e contribuiu decerto para o aumento exponencial do consumo de ansiolíticos nas próximas duas semanas.