Estamos em mês de
Lesboa Party. Para a VIII edição, a
Entre Vírgulas, empresa organizadora do evento, escolheu o cartaz em cima reproduzido.
Não obstante existir uma espécie de ligação emocional generalizada ao
Pavilhão de Exposições do Instituto Superior de Agronomia, acho positivo que a organização experimente novos espaços. Umas vezes sai-se melhor, outras pior, mas
quand même, é bom e pedagógico variar. Desta vez propõe-se
um espaço ultra avant-garde em conceito, mas que deixa algumas questões no ar sobre como responderá em termos de funcionalidade e conforto. A organização ainda não divulgou se haverá multibanco, quantas casas de banho estarão disponíveis e quantos bares, se haverá
snacks à venda e se se acomodarão zonas sentadas suficientes, items que constituem os habituais calcanhares de Aquiles das edições anteriores. Esperemos para ver.
O elenco está a ser dissecado no
blog da Lesboa, obviamente para promover uma escolha de ilustres desconhecidos, por muito que a organização o negue. No entanto, verdade seja dita, os "cabeças de cartaz" nunca foram um elemento determinante na afluência do público. As pessoas vão à Lesboa
pelo conceito e não para ver o espectáculo de música ao vivo que vem por acréscimo na compra do bilhete. Nesse capítulo, já houve edições em que
nomes sonantes foram uma estrondosa desilusão e já houve outras em que
desconhecidos levaram o público ao rubro (não foi o caso da última edição, em Monsanto, onde uma banda brasileira fez esperar e desesperar até às 4 da manhã para se limitar a desiludir numa actuação medíocre e que, depois de tanta espera ansiosa, pareceu durar uns meros 10 minutos). De qualquer modo, se por um lado a animação é essencial num evento deste tipo, por outro as escolhas não têm sido determinantes nem aglutinadoras. Ou seja: se a organização pretende capitalizar a adesão por essa via, terá de fazer (bem) melhor.
A confiar nos números divulgados pela Entre Vírgulas (e eles lá devem saber quantos bilhetes vendem e quantas pessoas "carimbam" à entrada), os níveis de frequência, grosso modo, têm sido os seguintes:
Lesboa I (30 de Setembro de 2006, Gare Marítima de Alcântara):
1500 pessoas (eram esperadas 800);
Lesboa II (2 de dezmbro de 2006, Pavilhão de Exposições do ISA):
1200 pessoas;
Lesboa III (17 de Fevereiro de 2007, edição de Carnaval, Pavilhão de Exposições do ISA):
1700 pessoas;
Lesboa IV (5 de Maio de 2007, Armazém C2, Docas de Alcântara):
1600 pessoas;
Lesboa V (30 de Junho de 2007, Quinta Pau de Bandeira, Pragal, Almada):
900 pessoas;
Lesboa VI (28 de Setembro de 2007, comemoração do 1º aniversário da Lesboa, Pavilhão de Exposições do ISA):
1600 pessoas;
Lesboa VII (4 de Fevereiro de 2008, edição de Carnaval, Quinta de Casal de Paulos, Monsanto):
1100 pessoas.
Daqui podem tirar-se algumas ilações e reflexões:
Logo desde a primeira edição se constatou que há um espaço a explorar ao nível dos eventos (não políticos) dirigidos à comunidade lgbt em geral e
às lésbicas em particular. Este aspecto é importante porque até dentro da comunidade lgbt as mulheres parecem estar remetidas para segundo plano em termos de opções (ou falta delas) sociais de lazer e convívio. Nesse aspecto, o nome do evento é dos mais bem conseguidos em várias décadas, a nível nacional e internacional.
Com a segunda edição veio a desmistificação do receio de "fenómeno isolado" e a consagração como evento de referência na comunidade lgbt. A Lesboa Party é, hoje me dia,
a festa lgbt da cidade, sendo que este é um "trono" que traz responsabilidades.
A Lesboa conseguiu afirmar-se como um dos melhores (se não o melhor) programas de Carnaval na cidade de Lisboa, já com duas edições bem sucedidas (Lesboa III e Lesboa VII), ocupando hoje um espaço considerável nesse nicho que pelos vistos tem mercado para além dos tradicionais desfiles.
Lesboa Parties fora de Lisboa, como foi a edição V, em Almada, não parecem cativar a adesão do público. Eu pessoalmente não percebo porquê, até porque neste caso específico me constou que o local foi muito bem escolhido do ponto de vista da beleza, comodidade e adequação ao evento. Mas enfim, como anteriormente referi, há os factores emocionais a considerar e aqui terão sido eles a criar uma certa rejeição à ideia. Outro factor que pode ter vaticinado a menor frequência de sempre terá sido a (péssima) escolha da data, que coincidiu com o Europride 2007 em Madrid, provocando uma lamentável (e evitável) dispersão do público-alvo.
Sendo assim e no que toca à oitava edição, será maximizador da afluência fazer a festa no meio de um fim de semana prolongado? É o que veremos. Eu tenho as minhas dúvidas, sendo que não estamos exactamente no Carnaval e especialmente levando em conta a avidez por sol e mar com que muita gente anda. Eu diria que a escolha desta data comporta um risco desnecessário. Este tipo de erro, a comprovar-se, não será o primeiro pelo que deixa de ser aceitável e pode sair muito caro a uma marca que custou tanto a construir e é tão importante no panorama lgbt da cidade de Lisboa e do país.
Na
tag "eventos" deste blog poderão encontrar tudo o que eu disse em
posts passados sobre a Lesboa Party.