O que o Povo quer mesmo é uma "política de Mentira".
Um dos mais observados - e tristes, diga-se de passagem - comportamentos de grupo é a legitimação por via d' "o pessoal". Funciona assim: se "o pessoal" diz todo que alguém é [preencher com classificativo conveniente], eh pá, então... é porque é!
Ano de 2009, séc. XXI. As terras lusas estão dominadas por uma força moral avassaladora que erradicou todos os políticos mal-educados do mapa. Todos? Não! Uma pequena ilha resiste ao largo da costa de África Ocidental, onde o seu bravo líder não só fala como gesticula ao jeito dos mais experimentados arruaceiros. E se ainda não se agarrou aos tomates flectindo o abdómen para frente diante de jornalistas, nesse extraordinário gesto tão típico da nossa cultura popular, é de certeza porque, como qualquer político que se preze reconhecerá, os jornalistas nunca estão no sítio certo à hora certa.
Ontem fui-me deitar cedo, exausta, e tive um sonho absolutamente doido em que um Ministro se punha a fazer cornos para um Deputado em plena Assembleia da República, sob a mira de todas as câmaras televisivas e máquinas fotográficas do País, criando um grave incidente institucional, sendo por isso obrigado a demitir-se e gerando uma subsequente crise governamental a três meses das eleições legislativas, ou seja, já em pré-campanha, acto esse cuja última consequência era entregar o poder à Direita durante os próximos anos.
Vejam lá o disparate, como se fosse possível!
As pessoas, muito contrariadas pela avaria, fulminaram-me com o olhar quando soltei uma gargalhada infantil ao ouvir o motorista dizer pelo altifalante: "É favor evacuar para fora do autocarro."
Sabem aquelas pessoas que "jogam pelo seguro", que "vivem pelo seguro", que só querem "uma vida normal", que são campeões do politicamente correcto, que se acham o role model de uma sociedade "decente", cuja vida é só upgrades, que nunca são vistos bêbedos em público, que nunca tiveram de pedir dinheiro emprestado, para quem "dúvidas existenciais" são próprias dos alienados e "intelectual" é sinónimo de "marginal"?
Pois bem, esta noite sonhei que era uma.
Há anos que eu tento transmitir esta ideia ao pessoal lá de casa: como colocar correctamente o papel higiénico no suporte. Agora a ciência vem-me dar razão, claro.
(via Farpas e Bitaites)
Eu também desconfio daquilo que os meus colegas comem, confesso, mas isto está embalado, acabei de abrir, é europeu, "queres uma bolachinha sueca?", "não, muito obrigado", reagem eles de mão no estômago e medo no rosto.
Assim vou ter de comê-las todas. E não vai demorar mais de cinco minutos.
Eu consulto muito o dicionário. Aliás, eu adoro consultar o dicionário. Vários dicionários. Pode parecer uma coisa chata, mas acreditem, é espectacular.
Normalmente, a premência da consulta instala-se quando me cruzo com palavras que conheço bem, mas não ao ínfimo detalhe. Isto não sucederá amiúde a quem não tenha o hábito de ler, mas a quem tenha e ainda por cima seja obsessivo-compulsivo, há que dizer com frontalidade, corre-se o risco.
Por exemplo: "neurótico". Toda a gente sabe o que significa neurótico, mas quantos de vocês, estimados leitores, podem afirmar que conhecem a fundo a classificação gramatical, etimologia, sinónimos e aplicações correctas da palavra?
Eu tive que ir ver se neurótico era mesmo o que eu pensava quando li um texto que mencionava "almoços neuróticos", mas no dicionário, e achei isto uma lacuna assinalável, não vem referência nenhuma ao meu ambiente profissional...
Sendo a ditadura um mui favorável regime para quem manda, não me surpreende que o mundo esteja cheio de pessoas que, aspirando ainda ou exercendo já o poder, cedam à tentação de sonhar com tal modelo. Uns nunca o conseguiram esconder por muito que o tentem disfarçar de piadola. Outros repudiam veementemente a blasfémia enquanto praticam uma "democracia" que se traduz muito simplesmente no seguinte: eles impõem e o povo não tem outro remédio senão acatar, mais ou menos contrariado, pelo menos até à próxima legislatura.
Sim, mãe, já ejectei os pulmões e pus a correr o antivírus. E agora?
... enquanto penso no jantar, afianço-vos que a Visão desta semana revela que a canção preferida de John Mc Cain é Dancing Queen dos Abba e que tanto ele como Barack Obama são canhotos.
Hã, nem a Sarah Palin consegue ser antropologicamente tão interessante!
PS - A Visão também aconselha que se vá descobrir o pompoarismo ao IV Salão Internacional Erótico de Lisboa. Eu como tenho amigas in high places que já me tinham instruido sobre isso, não vou.
Hoje o despertador voltou a tocar àquela hora fatídica que me estremece e violenta grande parte do ano e me impele para o alto e para fora.
No entanto, esta manhã já estava à espera do nervoso ruído, com os sentidos alerta para a mudança, e não foi com surpresa nem sobressalto que ouvi troar o som da desarmonia.
Talvez pela ausência do imprevisto e pela novidade que isso trouxe, fiz todo o caminho para o trabalho mergulhada num transe sonhador, na esperança que mais coisas diferentes me acontecessem: que a entrada do Metro tivesse fugido da praceta, por exemplo, ou, na carência desse excepcional, que as carruagens se deslocassem de pernas para o ar na abóbada do túnel, atribuindo um novo sentido às pegas de halterofilista que assim passariam a ser "foot-straps" das pranchas de windsurf de várias comitivas olímpicas com destino a Pequim através do Combóio Expresso Especial do Centro da Terra.
Mas não. A viagem decorreu sem pinos e a boca do Metro no destino continuava a exalar o habitual bafo ventoso e sujo, e ao cimo da rua os homens da segurança do Primeiro Ministro mantinham a sentinela engravatada e os mesmos rostos duros de sempre (só o polícia é que muda).
Fui beber uma garrafa de leite com chocolate antes de subir ao posto e não é que aumentou dez cêntimos?! Uma porra, vos digo, só compensada pelo novo portátil que tinha à espera na minha secretária sem sequer ter tido que o mendigar.
Em suma: voltei e a minha rotina ainda cá está.
Amem-me ou odeiem-me, desde que não falem de mim.
A mim parece-me que a forma mais óbvia de esquematizar a evidência de que Deus é, na verdade, um Diabo passa por chamar a atenção para o facto de "Diabo" ser considerada uma palavra menos positiva mas, convenhamos, muito melhor adaptada à personalidade de quem detém discricionariamente "todo o poder".
Há bocado levantei-me da minha cadeira e fui à casa de banho.
Fiquei lá um bocado a olhar para o chão, enquanto esperava que o meu corpo produzisse mais um episódio da história oculta da escatologia (há imenso tempo que queria ultilizar esta palavra num post e não estava a conseguir).
Quando aquilo acabou, pus-me de pé e olhei para cima, para o vidro fosco e sujo da pequena janela junto ao tecto e pareceu-me que o sol se tinha escondido entre as nuvens e que o tempo estava de novo escuro como se o Inverno tivesse decidido voltar.
Quando cheguei cá fora, precipitei-me para uma janela panorâmica e verifiquei com alívio que não era nada, o sol continuava ofuscante de radioso.
Pensei: não me posso distrair desta maneira. Se deixo de o vigiar atentamente, até ele se configurará para me deprimir.
Eu: Como se sente, constituindo um exemplo acabado daquela ideia de que a demência (no seu caso, gritante) e a genialidade andam muitas vezes de mãos dadas?
O cabrão: Pensei que vinha falar sobre a minha obra e não responder a perguntas desse género...
Eu: Mas o senhor É a sua obra! O senhor, felizmente, só existe através da sua obra. O senhor, se não soubesse escrever, já estaria preso ou internado há muito tempo porque decerto andaria pela vida a afirmar-se através de actos potencialmente mais macabros, para os quais a sua tendência é notória...
O cabrão: Bom, se calhar era melhor acabar esta entrevista aqui...
Eu: Então está bem, seu filho da puta, fuja lá desta experiência não controlada, que só não lhe está a agradar porque não foi o senhor que a concebeu, e já agora obrigadinha pelas noites atormentadas que me causou com a merda dos seus livros insignes e a sua mente psicopata.
O cabrão: Bom... Se calhar não me vou já embora, isto afinal pode ser interessante. A senhora começa a comportar-se como algumas das personagens que vivem dentro da minha cabeça...
Uma proletária urbana, sentada à minha frente, não gostou de um dos meus acessos de expontaneidade infantil e, perdendo a paciência, interpelou-me da seguinte forma:
"Ouça lá, mas de é que se está para aí a rir?!"
"Não posso dizer."
"Ai, ai, se a parvoíce pagasse imposto!..."
"Ouça, não vale a pena insultar porque eu não me estou a rir de si, OK?"
"Ah não, então está-se a rir de quê?!"
"Só porque eu não tenho razões aparentes para estar morta de riso, isso não implica que o motivo da piada seja a senhora. Já lhe ocorreu que eu posso ser simplesmente maluca?"
"Ai isso é de certeza!"
"Pronto, e os malucos riem-se sozinhos, não é?"
"Parva!" [entredentes]
Conclusão: é muito mal visto, nos dias de hoje, rir sozinha dentro de uma carruagem de Metro (e cantar em voz alta sem estar a pedir trocos deve cair na mesma categoria).
É certo que ser maluca sempre foi mal visto, embora eu ache que a loucura está muito subvalorizada. Mas rir?...
Era uma vez um tipo tão alheado, mas tão alheado da realidade multimédia que achava que os X-files eram o sítio onde se guardava correspondência amorosa do passado.
Ontem comecei a sonhar algum tempo antes de adormecer.
Sonhei que os anos 80 me perseguiam a alta velocidade, num veículo de vidros fumados onde se escondiam todas aquelas modas carentes de sentido estético e sobriedade psicotrópica.
Acordei sobressaltada ainda antes de cair no primeiro sono.
Constatei que não era sonho, era a realidade a acontecer no meu quarto: a minha mulher dizia-me que tinha encontrado numa velha agenda um poema que (lhe?) escrevi há anos e que era muito bonito.
"O que dizia o poema?"
Não sabia. Deu-me um comprimido para dormir e diz que o recitei toda a noite.
Hoje de manhã acordei com a cara inchada, mas (ainda) não me lembrava de nada.
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