"Perguntam-me se já me enganei «completamente» acerca de alguém. Tento encontrar uma resposta. Tive algumas grandes decepções, é verdade. E sempre com pessoas competitivas, cínicas e agressivas. Mas nunca ignorei que fossem competitivas, cínicas e agressivas; não estava completamente enganado. Achei foi que essas pessoas não seriam competitivas, cínicas e agressivas comigo. Não me enganei acerca da natureza delas, enganei-me acerca da natureza."
Se há um momento generalista que separa claramente a vida de uma pessoa em "antes de" e "depois de", acho que ele tem a ver com a destruição da utopia da eternidade: seja dos amigos para sempre ou dos amores para sempre, da estabilidade para sempre ou da razão para sempre.
Para reflectir, para que conste, para não esquecer, não perder de vista, não tirar da ideia:
"Alguns sucessos são apenas fracassos vivendo acima das suas possibilidades."
Se ao menos a consciência do facto atingisse mais intelectos, oh, se ao menos! Aí sim, teríamos provas irrefutáveis de evolução civilizacional, para já não falar no saudável e tão urgente decréscimo da hipocrisia. Optimismo não me falta, eu sei.
Vão à exposição do Darwin na Gulbenkian. Lá está tudo explicado. Eu simplesmente andei a armazenar energia para resistir bem aos rigores do Inverno.
Falamos em Junho.
Como desatar a ressonar por entre o silencioso relaxamento final de uma aula de yoga.
Não que eu fosse capaz de semelhante coisa, visto que não alcanço relaxar tanto assim, e principalmente tão depressa, quando partilho o chão de uma sala estranha com outras dez pessoas.
No entanto, a minha crónica inaptidão para me fechar em mim própria e não me deixar afectar pelo que me rodeia, como a mestra me tenta incansavelmente ensinar, pode descambar, se alguém o fizer ao meu lado, num tal ataque de riso que, por muito que eu o tente extinguir, acaba por aniquilar toda e qualquer possibilidade de mais alguém conseguir relaxar. E isso é muito embaraçoso, convenhamos.
Se por um lado é deveras entusiasmante e cool ter um blog onde se "posta" de hora a hora e poder dizer por aí "Vejam só que actualizados que nós somos e tão intelectualmente produtivos e chegamos a todas e não deixamos escapar nenhuma", por outro, na blogosfera como na vida, coisas muito colectivas acabam sempre por dar chatices. As telenovelas exploram este modelo há décadas, mas os intelectuais desprezam-nas e consequentemente não aprendem estas evidências com o povo.
Isto só me reconforta por ser a prova de que mesmo os muito cool não escapam à condição humana, com todas as características mais ou menos desagradáveis que ela acarreta.
O 5 Dias acabou (?) / implodiu / explodiu desintegrou-se e redefiniu-se numa assumida crise pouco clarificada (provavelmente porque é demasiado telenovélica). No entanto, a sequela já está online com caras novas, não percam as cenas dos próximos episódios. Eu sei que eu não vou perder.
Adenda: Uma telenovela parecida andou a desenrolar-se aqui.
Eu teria dito logo "apologia do mau carácter", isto segundo a ordem de valores católica apostólica romana mas depois reconsiderei porque este texto trata precisamente de fugir aos juízos de valor.
Eu pergunto: devemos ser bons porquê? E principalmente, devemos ser bons de acordo com a avaliação de quem? O que é que há de bom nisso, a não ser para aqueles para quem somos bons?
A recompensa divina? A evolução pessoal? Olhe que não, car@ leitor@, olhe que não. Na verdade, o prémio da sabedoria só se concretiza se formos suficientemente inteligentes para não cair na esparrela de dar a outra face. Se a oferecermos, é porque não aprendemos nada com a primeira chapada.
A falácia é a seguinte: quando nos incitam a sermos bons, o que na verdade querem é que sejamos bons para eles. Para eles. Se daí advier algo de positivo para nós, tanto melhor. Se não, paciência.
Os exemplos começam antes mesmo de se aprender a andar na posição erecta. Se uma criança faz uma birra porque não gosta da sopa, os pais incitam-na a ser boazinha e a comer a sopa toda, mas para quem é que isso é bom na verdade? Exacto, para os pais. Para os pais se sentirem de consciência tranquila em relação à quantidade de ferro e fibras que a criança ingere, para se sentirem bem consigo próprios na qualidade de "bons" pais. Por outro lado, a manobra de incutir na criança a ideia que fazer birras é ser mau e não fazer birras é ser bom menino / boa menina constitui uma óbvia contribuição para o bem estar, livre de mialgias, dos pais. E para a criança, será bom? Será mesmo bom obrigá-la a comer aquela papa asquerosa e ainda por cima reprimir os seus sentimentos e minar a sua auto-estima com culpabilizações de valor?
Outro exemplo: Porque é que a empatia se estabelece num encontro fortuito? É muito simples: porque alguém disse algo que gostámos de ouvir e assim se estabeleceu uma preferência decorrente da identificação com o outro, identificação essa que é potencialmente boa para o nosso ego, porquanto valida a nossa filosofia de vida e a nossa auto-estima, sem no entanto dizer praticamente nada sobre a suposta "bondade" do outro. Na verdade, o mais comum é dizermos sobre alguém que nos contestou/confrontou: "este gajo/a é um/a anormal/idiota/paspalho, palhaço/... (inserir insulto ou desdém que melhor vos aprouver), ou pelo contrário "que ser fantástico/maravilhoso/impecável/inteligente" sobre alguém que corroborou sistemáticamente as nossas teorias/posições.
Resumindo: a prática do bem em prol dos outros traduz-se, regra geral, numa manobra de auto-valorização - se esse bem for validado pelo reconhecimento - ou num penoso desperdício de energia - se não for.
Assim, o egoísmo como atitude anti-hipócrita de fazer o bem assumidamente por nós próprios consiste na fórmula inata mais eficaz de bem estar pessoal e não impede que o indivíduo seja solidário e tenha princípios éticos. Apenas evita que seja um totó errando pela vida com achaques de pundonor.
Agora, @ leitor@ pode cair na tentação de achar que, por ler este texto, já sabe algo sobre mim. Desengane-se. Eu não sou egoísta. Eu escrevi isto por me acontecer amiúde simpatizar com grandes putas dissimuladas e cabrões contestatários.
O cérebro faz parte do corpo e persiste em não ser ostracizado nesta quadra de descanso. Se, por vezes, ainda se entrevê uma luzinha de alarme sinalizando um resquício de culpa por me passarem tão ao lado a guerra na Geórgia, o tiroteio do BES, o que se passa com nossos (e os outros) nos Jogos Olímpicos de Pequim e tudo o mais que acontece fora deste canto esquecido (e sem televisão) onde me vim meter, a verdade é que me fundi na massa autóctone que, há muito abandonada, também abandonou o mundo e, assim, a única coisa que não me passa ao lado agora é a hora do mosquito.
Uma proletária urbana, sentada à minha frente, não gostou de um dos meus acessos de expontaneidade infantil e, perdendo a paciência, interpelou-me da seguinte forma:
"Ouça lá, mas de é que se está para aí a rir?!"
"Não posso dizer."
"Ai, ai, se a parvoíce pagasse imposto!..."
"Ouça, não vale a pena insultar porque eu não me estou a rir de si, OK?"
"Ah não, então está-se a rir de quê?!"
"Só porque eu não tenho razões aparentes para estar morta de riso, isso não implica que o motivo da piada seja a senhora. Já lhe ocorreu que eu posso ser simplesmente maluca?"
"Ai isso é de certeza!"
"Pronto, e os malucos riem-se sozinhos, não é?"
"Parva!" [entredentes]
Conclusão: é muito mal visto, nos dias de hoje, rir sozinha dentro de uma carruagem de Metro (e cantar em voz alta sem estar a pedir trocos deve cair na mesma categoria).
É certo que ser maluca sempre foi mal visto, embora eu ache que a loucura está muito subvalorizada. Mas rir?...
Há assuntos em que prefiro o imaginário à realidade. E, aparentemente, não serei a única. Por exemplo:
Há restaurantes, tascas, etc., nas quais gosto particularmente de comer e onde nunca por nunca entraria na cozinha. Poderia correr o risco de nunca mais lá conseguir voltar.
Do mesmo modo, há actores, actrizes, encenadores que me marcaram de forma singular. Talvez porque tenham morrido demasiado cedo e permaneçam eternos no seu glamour ou apenas porque nunca os conhecemos pessoalmente nem a sua forma de pensar. Veja-se o caso da Marilyn Monroe, do James Dean e, mais recentemente, do promissor actor Heath Ledger e veja-se o caso da Brigitte Bardot, tão cantada na sua juventude por Miguel Gustavo, entre outros, e tão contestada hoje pelas razões opostas: a sua degradação física e, para mim, sobretudo por incitar ao ódio racial, por atacar gays, imigrantes e desempregados, enquanto gasta fortunas com animais. A canção de Tomzé sobre ela chega a ser cruel de tão verdadeira:
“A Brigitte Bardot está ficando velha,
envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot,
que era uma moça bonita,
mas ela mesma não podia ser um sonho
para nunca envelhecer.
A Brigitte Bardot está se desmanchando
e os nossos sonhos querem pedir divórcio.
Pelo mundo inteiro
milhões e milhões de sonhos
querem também pedir divórcio....”
Há escritores, poetas, cantores que evitarei a todo o custo conhecer sob pena de a sua obra, independentemente da qualidade, ser adulterada pela personalidade do autor.
Há paixões e amores que nunca quis nem quererei viver. Prefiro uma boa e sólida amizade ao desencanto e afastamento que a tentação de os viver pudesse provocar. Nisto também não estou só. Reinaldo Ferreira, o meu poeta favorito, no seu livro “Um vôo cego a nada” no capítulo sobre Algumas breves poesias de amores fictícios, tem este poema magistral:
“De Copélia guardo três cartas melancólicas,
Um laço e, de uma rosa
Que o perfume aprendeu nos seus cabelos,
Um esvaído botão.
Evade-se do todo um halo a antigo, triste.
Claro que Copélia não existe
E as cartas também não.
Só é real porque me falta.
Porque a não tive creio nela e creio
Na memória de quem foi no meu passado;
Nos passeios furtivos que tivemos;
Nos astros que pusemos
Nalgum beijo trocado;
Na exaltação de certa dança, alada
Na sensação de que uma nuvem me enlaçasse;
E na suave e pura e filtrada emoção
De alguma vez que a sua mão
Entre as minhas tardasse.
Esta é Copélia a quem, se acaso dado fosse
Nascer ou ter vivido,
Rígido pai ma recusasse,
Lírico mal ma arrebatasse
Sem a ter possuído,
Para que doutro ou morta virgem
Ilesa e viva dentro de mim permanecesse."
Como diria alguém de cujo nome não me recordo “A melhor forma de manter vivo um sonho é nunca o concretizando.”.
Vocês sentem-se orgulhosos da vossa licenciatura e dos prefixos Dr. ou Eng. nos cartões de crédito gold e nos extractos mensais do Corte Inglés, ai que vergonha se não estivessem lá e essas merdas, não é?
Eu também gostava que me bastasse isso para me sentir melhor, mas infelizmente não. Há um trauma que ainda não consegui ultrapassar passados tantos anos, não importa quão farta esteja do cabrão do meu psiquiatra, que só quer falar de sexo. Sexo com o pai, sexo com a mãe, sexo do pai, sexo da mãe e outras variantes do mesmo tema que já não posso aturar.
Mas ia a dizer, não gosto da minha licenciatura nem da minha faculdade, aliás, a segunda chega a dar-me vómitos e nem sequer me consigo aproximar do edifício sem ficar deprimida. A verdade* é que passei quatro anos da minha vida a ser ostensivamente desprezada por respeitar mais as pessoas e os animais do que os números e os ganhos de eficiência económica decorrentes da extinção das baleias, cœteris paribus, que é como quem diz, o resto não interessa nada, até porque cenas como o legado histórico e a biodiversidade são um bocado difíceis de quantificar numa curva de ultilidade por serem subjectivas como o caralho.
Tudo o que não cabia no modelito cujas premissas oravam aquela missa do "num cenário de concorrência perfeita, informação perfeita, agentes económicos racionais, inexistência de barreiras à entrada e ausência total de emoção" era considerado irrelevante economicamente o que na prática significa apenas que tais fenómenos não eram tão selvaticamente liberais quanto desejável para que o grande capital pudesse ter o controle absoluto da humanidade.
É demais, foram anos e anos a pregarem-me aquele sermão como se fosse de uma exactidão inatacável quando é óbvio para TODA a gente fora daquelas paredes pseudo-iluminadas que a única "realidade" que o tal "cenário" poderia reflectir eram os sonhos (infantilóides, no fundo) de conquista do Mundo pela lei do mais forte afastando os fracotes do caminho porque eles só empatam e perturbam os níveis de eficiência, produtividade, etc..
Sabemos que Darwin observou este tipo de comportamentos nos animais irracionais mas talvez, digo eu, a teoria da evolução seja de difícil aplicação à nossa espécie dado um pormenor ou outro da complexidade humana, mas só talvez.
No entanto, inegável é que estes "iluminados" chegam aos governos e não acertam numa que seja, é humilhações dia após dia em directo no jornal da noite, "pois eu sei que afirmei isso na semana passada mas entretanto a conjuntura alterou-se...", e o pessoal todo a rir-se alarvemente deles como quem lhes cospe nas trombas, agora venham lá dizer que nós é que somos uns irracionais e que o modelo é que está certo e que se agíssemos todos como "era suposto" (=máquinas) isto corria tudo às mil maravilhas, vá cabrões!!
E pronto, foi a primeira sessão (e provavelmente a última) da terapia assexuada e auto-didata para tentar resolver os traumas da minha formação, muito obrigada e até para a semana.
* Aquilo dos quatro anos é mentira, na verdade foram seis só que os outros dois que lá passei não custaram tanto porque eu nunca ia às aulas e só fazia coisas fixes. Chumbava como o caralho, é certo, mas, pá...
Em conversa com uma amiga, surgiu a seguinte questão, que é aliás recorrente nos dias de hoje: Será o ser humano infiel por natureza?
Será a fidelidade uma construção criada pelas sociedades para garantir que a propriedade privada passe de membros de uma mesma família para outros dessa mesma família? Ou terá sido imposta por razões religiosas? "Não cobiçarás a mulher do outro"?
Ou terá antes a ver com o desejo de posse e sentido de propriedade? De controlo do outro? O medo da solidão? A insegurança?
Será que estamos a contrariar um impulso perfeitamente natural através de mecanismos de culpabilização e falsos critérios éticos e morais?
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