Porque hoje é sábado, acordo embalada com o cantarolar da Carolina debaixo da minha janela.
Porque hoje é sábado, tomo o café com o coração marejado de lágrimas de saudades vossas.
Porque hoje é sábado, e sou responsável pelas minhas rosas, não apanho o avião para casa.
A WL do Capuccino desafiou-me para:
a) Escrever uma lista com 8 coisas que sonho fazer ou com as quais sonhe;
b) Convidar 8 bloguistas a responder ao mesmo;
c) Comentar no blog de quem partiu o desafio;
d) Comentar no blog de quem desafiamos;
e) Mencionar as regras.
Já tive oportunidade de lhe agradecer e dizer que as alíneas b) e d) estão fora de questão porque tenho alma de quebra-correntes, forjada à laia de muitos mails do género "Olá, eu sou a Mafalda e estou a morrer de cancro, ajuda-me depositanto 20€ na seguinte conta para financiar a minha viagem a Londres onde há um médico muito especial e só ele é que me pode salvar. Mais importante ainda, passa isto a todos os teus contactos.".
Hoje em dia não consigo ser racional sobre isto, chega ao pé de mim uma corrente e eu, pás!, quebro-a.
O que não quer dizer que eu não possa responder aos desafios, mesmo que não desafie mais ninguém.
Sendo assim, aqui vai, oito desejos, não é?
(em quantos vai? OK, agora uma ou duas coisitas que sonho fazer. Ou três.)
Há assuntos em que prefiro o imaginário à realidade. E, aparentemente, não serei a única. Por exemplo:
Há restaurantes, tascas, etc., nas quais gosto particularmente de comer e onde nunca por nunca entraria na cozinha. Poderia correr o risco de nunca mais lá conseguir voltar.
Do mesmo modo, há actores, actrizes, encenadores que me marcaram de forma singular. Talvez porque tenham morrido demasiado cedo e permaneçam eternos no seu glamour ou apenas porque nunca os conhecemos pessoalmente nem a sua forma de pensar. Veja-se o caso da Marilyn Monroe, do James Dean e, mais recentemente, do promissor actor Heath Ledger e veja-se o caso da Brigitte Bardot, tão cantada na sua juventude por Miguel Gustavo, entre outros, e tão contestada hoje pelas razões opostas: a sua degradação física e, para mim, sobretudo por incitar ao ódio racial, por atacar gays, imigrantes e desempregados, enquanto gasta fortunas com animais. A canção de Tomzé sobre ela chega a ser cruel de tão verdadeira:
“A Brigitte Bardot está ficando velha,
envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot,
que era uma moça bonita,
mas ela mesma não podia ser um sonho
para nunca envelhecer.
A Brigitte Bardot está se desmanchando
e os nossos sonhos querem pedir divórcio.
Pelo mundo inteiro
milhões e milhões de sonhos
querem também pedir divórcio....”
Há escritores, poetas, cantores que evitarei a todo o custo conhecer sob pena de a sua obra, independentemente da qualidade, ser adulterada pela personalidade do autor.
Há paixões e amores que nunca quis nem quererei viver. Prefiro uma boa e sólida amizade ao desencanto e afastamento que a tentação de os viver pudesse provocar. Nisto também não estou só. Reinaldo Ferreira, o meu poeta favorito, no seu livro “Um vôo cego a nada” no capítulo sobre Algumas breves poesias de amores fictícios, tem este poema magistral:
“De Copélia guardo três cartas melancólicas,
Um laço e, de uma rosa
Que o perfume aprendeu nos seus cabelos,
Um esvaído botão.
Evade-se do todo um halo a antigo, triste.
Claro que Copélia não existe
E as cartas também não.
Só é real porque me falta.
Porque a não tive creio nela e creio
Na memória de quem foi no meu passado;
Nos passeios furtivos que tivemos;
Nos astros que pusemos
Nalgum beijo trocado;
Na exaltação de certa dança, alada
Na sensação de que uma nuvem me enlaçasse;
E na suave e pura e filtrada emoção
De alguma vez que a sua mão
Entre as minhas tardasse.
Esta é Copélia a quem, se acaso dado fosse
Nascer ou ter vivido,
Rígido pai ma recusasse,
Lírico mal ma arrebatasse
Sem a ter possuído,
Para que doutro ou morta virgem
Ilesa e viva dentro de mim permanecesse."
Como diria alguém de cujo nome não me recordo “A melhor forma de manter vivo um sonho é nunca o concretizando.”.
Ontem comecei a sonhar algum tempo antes de adormecer.
Sonhei que os anos 80 me perseguiam a alta velocidade, num veículo de vidros fumados onde se escondiam todas aquelas modas carentes de sentido estético e sobriedade psicotrópica.
Acordei sobressaltada ainda antes de cair no primeiro sono.
Constatei que não era sonho, era a realidade a acontecer no meu quarto: a minha mulher dizia-me que tinha encontrado numa velha agenda um poema que (lhe?) escrevi há anos e que era muito bonito.
"O que dizia o poema?"
Não sabia. Deu-me um comprimido para dormir e diz que o recitei toda a noite.
Hoje de manhã acordei com a cara inchada, mas (ainda) não me lembrava de nada.
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