Disse-me a Rita há bocado que é um mal geral a razão inversa entre o trabalho e a motivação. Muito trabalho, pouca motivação.
Ontem o meu chefe, e gosto de me referir a ele como "chefe" por essa ser uma das palavras porventura mais desprestigiantes no dicionário de Língua Portuguesa, chamou-me "filha".
"Pois é, filha, mas blá, blá, blá..." foi como tentou desacreditar a minha opinião técnica. De notar que também se refere a uma outra mulher hierarquicamente superior e que é da idade dele, cerca de cinquenta e poucos anos, como "a rapariga". De notar também que nunca lhe passaria pela cabeça tratar algum colega meu do sexo masculino por "filho" ou admitir que alguém se referisse a ele próprio como "o rapaz".
Na fracção de segundo imediata deve ter sentido o meu olhar gélido porque se apressou a emendar com um ainda pior "Filha, salvo seja!" sem me conseguir olhar de frente mas forçando o sorriso numa tentativa patética de tornar o ambiente mais leve.
Enfim, o que fazer, o que dizer? Livrou-se de um ácido "Não sou sua filha, nem sequer da sua família." porque, pelo meu lado, também sou a calculista que neste momento está interessada em que ele me pague o mestrado sem muitas ondas. E porque não tive tempo de dizer nada antes da emenda.
Mas é assim o mercantilismo das relações laborais: aturar tratamentos demeritórios em troca de (alguma) estabilidade financeira. O respeito e a consideração já não têm lugar.
Hoje, no Diário Económico (Caderno "Universidades", página VI):
""No âmbito do nosso programa "Ready For The Next Level", a maioria das contratações são feitas procurando os melhores finalistas dos cursos de Engenharia Informática.", explica Miguel Lopes, vice-presidente de marketing e gestão de produto da Altitude Software (...)".
E depois o jornal esclarece, em destaque:
"O salário para estagiários da Altitude Software oscila entre os 500 e os 700 euros, dependendo de se vão trabalhar para fora de Portugal".
Já voltei de férias e do isolamento a que normalmente me voto quando as gozo nesta altura do ano. Já voltei há uma semana à rotina profissional e (virtual) social, mas no blog não se nota nada, pois não?
Agora imaginem a carga de trabalho que eu terei encontrado no escritório para ainda não ter conseguido escrever UM único post. Dizem que a produtividade é isto.
Ou a farda dos Meos, simplesmente, afinal de contas tanto dinheiro investido nessa imagem que podia ser tão melhor capitalizado!
E nada quanto ao corte de cabelo? Isso é que eu acho que está mal, uma pessoa assim não sabe o que há-de fazer e ó se há gente que precisa de orientação nesse aspecto, meu deus!
Como já dei a entender em algumas ocasiões, as minhas relações com as mulheres-a-dias são, no melhor dos cenários distantes e no pior, destiladoras de ódio. Uma das características mais arrepiantes que uma dessas senhoras pode ter para mim é falar demais e de forma opiniosa para se meter na minha vida privada mais do que o estritamente indispensável.
Mas o facto é que preciso urgentemente de contratar uma, só para evitar morrer de alergias, episódio que ameaça concretizar-se muito em breve, dada a minha falta de tempo para as tarefas domésticas.
Depois da nega seca que a empresa gestora de condomínio me deu, evidenciando a má-vontade com a super-credível desculpa de que não conheciam ninguém (pergunto-me como limparão as partes comuns do edifício...), resolvi perguntar a um colega de trabalho se conhecia alguma pessoa de confiança, que não roube, não peque fogo à casa, limpe efectivamente em vez de ver televisão o dia todo, etc., etc., etc., e ele diz-me Sim, conheço alguém, não sei se está livre, mas é de absoluta confiança. Só tem um problema: é surda.
Surda?! Mas isso é maravilhoso!, retorqui eu, emendando logo a seguir, Ou seja, não foi bem isso que eu quis dizer, coitada da senhora, o que quis dizer foi que para mim não constitui problema algum, desde que limpe bem, ela sabe ler, não sabe?, pronto, excelente, eu deixo-lhe recados escritos, não conto estar em casa, de qualquer modo...
E assim me encontro, ansiosa, à espera de saber se a promissora dama tem disponibilidade para trabalhar para mim, mas senão já sei o que vou fazer: um anúncio de jornal à procura de uma senhora das limpezas que seja surda-muda, a quem pagarei regiamente, com segurança social, contrato, seguro de acidentes de trabalho, décimos terceiro e quarto meses e tudo mais a que tiver direito, porque este país só andará para a frente quando aprenderemos a recrutar o profissional certo para o lugar certo.
Eu consulto muito o dicionário. Aliás, eu adoro consultar o dicionário. Vários dicionários. Pode parecer uma coisa chata, mas acreditem, é espectacular.
Normalmente, a premência da consulta instala-se quando me cruzo com palavras que conheço bem, mas não ao ínfimo detalhe. Isto não sucederá amiúde a quem não tenha o hábito de ler, mas a quem tenha e ainda por cima seja obsessivo-compulsivo, há que dizer com frontalidade, corre-se o risco.
Por exemplo: "neurótico". Toda a gente sabe o que significa neurótico, mas quantos de vocês, estimados leitores, podem afirmar que conhecem a fundo a classificação gramatical, etimologia, sinónimos e aplicações correctas da palavra?
Eu tive que ir ver se neurótico era mesmo o que eu pensava quando li um texto que mencionava "almoços neuróticos", mas no dicionário, e achei isto uma lacuna assinalável, não vem referência nenhuma ao meu ambiente profissional...
Esqueci-me de vos dizer que isto está(va?) fechado para balanço, foi? Pois é. Já não há respeito pelos nossos leitores. Uma vergonha, enfim.
Mas enquanto espero que anunciem aqui no escritório a que pontes tenho direito este ano, não me sinto motivada para nada. Há que assumir a minha faceta terra-a-terra de uma vez por todas.
O zelo profissional? É directamente proporcional ao montante do vencimento, ainda não estava bem claro, isso?
Geração dos 30 anos pode perder até 60% da reforma
Chamem-me pessimista, mas nos dias que correm, com os níveis de salários baixos que se praticam, que percentagem da população com idade à volta dos 30 anos é que tem 10% (já nem digo 30%) do rendimento disponível - para não mencionar aqueles que nem sequer têm rendimento - para poupar?
Isto soa, além do mais, ao seguinte: se acham vivem mal agora, esperem até serem incapacitados para o trabalho e dependentes da reforma do Estado. Então aí é que vão ver o que é, de facto, viver mal.
E, como não se vislumbram milagres no sistema público de segurança social, deve ser exactamente isso que nos espera.
Porreiro, pá!
ADENDA (em 27 de Novembro de 2008):
O contraditório está aqui.
Parece que a empresa responsável por este estudo vende PPRs, não sendo por isso isenta.
Não deixa, no entanto, de ser verdade que a maioria dos portugueses não possui (nem nada leva a crer que venha a possuir nos anos mais próximos) capacidade para atingir os níveis de poupança de longo-prazo desejáveis e que, por isso, se afigura um cenário muito desagradável para a "geração dos 30 anos" quando atingir a idade da reforma.
Hoje o despertador voltou a tocar àquela hora fatídica que me estremece e violenta grande parte do ano e me impele para o alto e para fora.
No entanto, esta manhã já estava à espera do nervoso ruído, com os sentidos alerta para a mudança, e não foi com surpresa nem sobressalto que ouvi troar o som da desarmonia.
Talvez pela ausência do imprevisto e pela novidade que isso trouxe, fiz todo o caminho para o trabalho mergulhada num transe sonhador, na esperança que mais coisas diferentes me acontecessem: que a entrada do Metro tivesse fugido da praceta, por exemplo, ou, na carência desse excepcional, que as carruagens se deslocassem de pernas para o ar na abóbada do túnel, atribuindo um novo sentido às pegas de halterofilista que assim passariam a ser "foot-straps" das pranchas de windsurf de várias comitivas olímpicas com destino a Pequim através do Combóio Expresso Especial do Centro da Terra.
Mas não. A viagem decorreu sem pinos e a boca do Metro no destino continuava a exalar o habitual bafo ventoso e sujo, e ao cimo da rua os homens da segurança do Primeiro Ministro mantinham a sentinela engravatada e os mesmos rostos duros de sempre (só o polícia é que muda).
Fui beber uma garrafa de leite com chocolate antes de subir ao posto e não é que aumentou dez cêntimos?! Uma porra, vos digo, só compensada pelo novo portátil que tinha à espera na minha secretária sem sequer ter tido que o mendigar.
Em suma: voltei e a minha rotina ainda cá está.
Na mesma alocução, feita na parada do comando da PSP de Lisboa, Jorge Barreira fez ainda votos para que "a roupa suja da PSP se lave dentro das instalações". Em revista aos agentes, o comandante mostrou descontentamento com várias "situações de mau fardamento" que "encontrou".
Se pensarmos que, segundo esta notícia, os vencimentos dos 22 mil agentes da PSP vão ser congelados em 2008, assim como, pelo terceiro ano consecutivo, as subidas de escalões e promoções salariais, a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) pela voz do seu presidente, Paulo Rodrigues, tem razão para dizer que "O primeiro-ministro disse que a partir de 01 de Janeiro todos os escalões de todos os sectores da Função Pública estavam desbloqueados e perante esta notícia sentimo-nos enganados".
Sendo por demais evidente que o novo comandante não se referia à aquisição de máquinas de lavar para a PSP, os polícias não só são enganados como lhes é dada uma instrução clara no sentido de "comerem e calarem". Ficamos com a ideia de que esta moda autoritária e anti-democrática, tão à maneira do antigo regime, veio para ficar com este governo. E não só na PSP...
Pela importância, profundidade e seriedade desta análise de José Soeiro do BE na sessão de comemoração do 25 de Abril na AR.
- Deixa lá, de qualquer forma tinhas um jogo de merda.
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