Sexta-feira, 31 de Agosto de 2007
Há muitos dias que me apetece escrever aqui alguma coisa sobre o que se passa na Grécia, mas as palavras parecem-me sempre, de alguma forma, vãs.
Mas não. Por muito repetidas que sejam, são importantes para reforçar a mensagem. Uma mensagem de choque e incredulidade, de revolta e dor.
Há dois anos, era Portugal que estava nas páginas dos jornais e noticiários televisivos de todo o mundo por causa dos fogos. Agora a Grécia retoma a notícia de catástrofe numa dimensão de horror inexprimível. E, como em Portugal, há a forte suspeita de acção criminosa na propagação das chamas.
É importante não deixar cair no esquecimento (e daí o título do post) imagens como esta, tirada a partir de um satélite no espaço - para não expor as mais chocantes - , que é suficientemente ilustrativa da calamidade que se pode abater sobre um país e um povo se não se adoptarem medidas políticas preventivas sérias e corajosas que evitem até à exaustão do possível estes acontecimentos dramáticos e de consequências desastrosas não só para as vítimas directas, como para todo um planeta.
Terça-feira, 28 de Agosto de 2007
Nelson Évora, 21 anos, sagrou-se ontem campeão mundial - sim, mundial - de triplo salto. A bandeira portuguesa subiu mais alto no mastro enquanto se ouvia em Osaka o hino nacional.
O atletismo português volta aos tempos áureos carregados de emoção. Felizmente, há vida para além do futebol.
Sexta-feira, 24 de Agosto de 2007
... quando já estava exausta da minha própria insónia, quando já não conseguia ler nem mais um parágrafo, apreciar nem mais uma fotografia do World Press Photo Book de 1999, na trigésima segunda volta da sala para o quarto, passei pelas janelas da cozinha e vi que a madrugada se diluía numa luz perfeita para umas boas fotografias. Mas se já estava demasiado cansada para me por a pensar onde tinha a máquina, o que dizer sobre o esforço intransponível de raciocinar sobre a velocidade de obturação e a abertura do diafragma...
Quando me levantei às 8:45h, doeu-me mais do que é costume abrir os olhos por também verificar que a suavidade da luz e o enquadramento poético se tinham perdido na agressividade habitual do urbanismo selvagem. O lago dos patos já não parecia um espelho, e as obras lá do fundo, as que me limitam o horizonte, já estavam cobertas da mesma fealdade poeirenta de sempre. Nem as silhuetas das gruas se safavam, por terem perdido esse perfil sombrio e essa posição de descanso geométrico, e recuperado a cor de metal transitório e um desagradável movimento dessincronizado.
A vida também é feita de oportunidades perdidas. No meu caso, aquelas a que o sono ganha.
Quinta-feira, 23 de Agosto de 2007
Alguém por obséquio me informa onde é que eu posso depositar, para reciclagem de componentes electrónicos, esta carroça com design hediondo e incapacidade crescente (a ritmo exponencial) para processar eficazmente seja que informação for, que é o meu PC?
É que eu não tenho coragem de o partir furiosamente aos bocadinhos e depois tentar disfarçá-los no meio do lixo orgânico.
Quer dizer... Eu tenho coragem de o partir em bocadinhos muito pequeninos. E paciência também. Tempo arranja-se. E o cabrão merece. Mas depois pesar-me-ia a consciência ambiental. E, como é sabido, eu já tenho
problemas que cheguem.
Obrigada.
Terça-feira, 21 de Agosto de 2007
Oito da manhã. Sobressalto.
Um mosquito? A zumbir junto ao meu ouvido.
Agora?! Ao acordar e não, como é costume, quando estou prestes a adormecer?
Estás fora do tempo, estupor. Um gesto e desapareces no meio do meu cabelo. Perdes-te aí. Estás liquidado.
Agora só preciso de bater com a cabeça na cama em vários sítios, de vários ângulos. Ou morro eu ou morres tu. Tenho mesmo que me levantar e ir trabalhar?
Segunda-feira, 20 de Agosto de 2007
Mas a vontade de escrever ainda não.
Sexta-feira, 3 de Agosto de 2007
Agora que isto está a ficar verdadeiramente lúgubre, impõe-se uma retirada estratégica, para balanço (das pernas, na beira da piscina).
Até dia 16 (ou quando calhar).
“A análise excessiva dos factos acaba por destruir o conceito…Ou é o contrário? Os conceitos destroem os factos?”
Pérez-Reverte , em “O Pintor de Batalhas”.
A factualização exaustiva dos conceitos lixa as análises... Ou será que muita da conceptualização dos factos leva a análises lixadas, como diria um amigo meu?
A meu ver, é mais a segunda opção.
Quinta-feira, 2 de Agosto de 2007
Dedicado ao gato que me tinha, que me punha em cuidados, que me seduzia, que me acompanhava só quando queria, que me mordia e arranhava, em quem eu batia e a quem gritava, que me divertia como ninguém e que eu amava.
Ah, esse cara
Tem me consumido
A mim e a tudo que quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida
Porque quer
Eu estou pro que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada
Ele some
Ele é quem quer
Ele é meu homem
Eu sou apenas uma mulher.
Não sei porquê, e pronto lá vou eu ficar com fama de ter taras sexuais com animais, mas esta letra do Chico Buarque faz-me sempre pensar nele, nesse Genghis Khan, nesse lorde vagabundo, nesse boémio endiabrado, que um dia (há quatro anos) teve que me deixar, morrendo num voo desastrado atrás de um pombo que não caçou, o malvado.