Sexta-feira, 30 de Maio de 2008

Fascismo nunca mais?

"O superintendente-chefe Jorge Barreira tomou ontem [24 de Maio] posse como comandante da PSP de Lisboa. No discurso de inauguração, o responsável frisou que os seus subordinados deviam sentir-se satisfeitos por terem emprego.

O novo líder da PSP de Lisboa abordou o descontentamento dos elementos policiais com as condições de trabalho, afirmando que estes "deviam era estar contentes com o salário a cair na conta bancária, no dia 21 de cada mês".

 

Na mesma alocução, feita na parada do comando da PSP de Lisboa, Jorge Barreira fez ainda votos para que "a roupa suja da PSP se lave dentro das instalações". Em revista aos agentes, o comandante mostrou descontentamento com várias "situações de mau fardamento" que "encontrou".

 

Se pensarmos que, segundo esta notícia, os vencimentos dos 22 mil agentes da PSP vão ser congelados em 2008, assim como, pelo terceiro ano consecutivo, as subidas de escalões e promoções salariais, a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) pela voz do seu presidente, Paulo Rodrigues, tem razão para dizer que  "O primeiro-ministro disse que a partir de 01 de Janeiro todos os escalões de todos os sectores da Função Pública estavam desbloqueados e perante esta notícia sentimo-nos enganados".

 

Sendo por demais evidente que o novo comandante não se referia à aquisição de máquinas de lavar para a PSP, os polícias não só são enganados como lhes é dada uma instrução clara no sentido de "comerem e calarem". Ficamos com a ideia de que esta moda autoritária e anti-democrática, tão à maneira do antigo regime, veio para ficar com este governo. E não só na PSP...

Buraco tapado por Cosmopolita às 13:04
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Eu (também) Não Vou

 

porque

 

 

e eu não gosto.

 

Mas adoro quando o liberalismo selvagem lhes corre mal.

 

(imagens recebidas por e-mail).

 

Buraco tapado por Citadina às 10:18
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008

Lesboa VIII: o bom, o mau e o cómico

O bom: a música. Nunca esteve tão boa, que eu me lembre. Acertaram em cheio, cá para os meus gostos, parabéns!

O mau: as casas de banho químicas. Ou deveria dizer as casas de banho radioactivas? O que é aquilo, minha gente?! Antes a mata que tal sorte, a sério, sempre é mais arejada e até estava um luar inspirador. De resto não houve nada verdadeiramente mau, pelo menos para quem tenha sentido de humor.

O cómico: aqui a lista é extensa. Entrava-se desde logo para um picadeiro imenso e subaproveitado mas isso, tenho a certeza, deveu-se a problemas de agenda dos foliões de Pamplona que ainda estariam a recuperar das largadas de touros deste ano, mas o lugar tinha potencial para correrias bem velozes na tentativa de salvar a vida.

Quanto a actividades mais íntimas, como é óbvio faltaram uns arbustos. Com um frio assinalável e um descampado daqueles aposto que ninguém conseguiu encontrar um lugar suficientemente acolhedor dentro do recinto para ser apanhado com a boca na botija, o que retira sempre uma certa emoção a estas reuniões. E assunto para falar no dia seguinte, como é?!

A barraca transparente poupava na sinaléctica, via-se perfeitamente da Praça do Comércio que a festa era ali. Aliás, caso um cigarro tivesse acidentalmente entrado em contacto com alguma das "paredes", tenho a certeza que se veria muito bem do Cabo Espichel, numa alegre antecipação das fogueiras de S. João e Deus sabe como tinha sabido bem algum calorzinho naquela noite fria.

Algum parolo com necessidades extremas de atenção foi de limousine branca de dez metros alugada, mas ainda bem porque nestes sítios é sempre bom ter alguém com quem gozar e é muito útil como assunto para meter conversa com desconhecidos, para quebrar o gelo, encetar engates e essas coisas. Um verdadeiro serviço público.

Os tapetes que pediram emprestados ao Circo Cardinalli foram muito úteis como "lama free zone" para as parvas que resolveram levar sapatos bons em geral e saltos altos em particular.

Em suma: diverti-me muito. Foi, de facto, a Lesboa mais cómica jamais organizada. O que prova que é quando a organização mais se esforça por não ser levada a sério que melhor consegue divertir o público da festa. É uma estratégia de sucesso tão legítima como outra qualquer, minha gente!

 

(Foto roubada aqui).

Buraco tapado por Citadina às 16:23
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Nããããããããooo!!!!!

O meu blog favorito de todos os tempos (e sei que a Cosmo subscreve esta preferência) acabou.

A blogosfera não fica mais pobre. Fica pobre, simplesmente. Que me desculpem os outros, mas é isto mesmo que eu acho, assim, no calor do momento. Daqui a bocado pode ser que já esteja menos emocional, mas duvido.

Hás-de pagá-las, Bandeira, não se cria assim uma dependência nas pessoas destituída de responsabilidade e consequências!

Espero que o teu bando de fãs te persiga na rua e te embarace em locais públicos. Já sabes como são as mulheres. Quando gostam, até chateiam!

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Buraco tapado por Citadina às 13:58
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Quarta-feira, 21 de Maio de 2008

Se corre o bicho pega, se fica o bicho come

Expliquem-me (outra vez) como se eu fosse muito burra.

Portugal é um dos países europeus que leva mais tempo a pagar as facturas e o Estado, nesse capítulo, é o pior dos portugueses.

Mas o Estado português quer que os desempregados ajudem a resolver a crise do desemprego embarcando em projectos a solo que automaticamente os removam das incómodas estatísticas.

Isto na prática significa que o Estado quer que alguém, que está em muito maus lençóis, faça um truque de magia para fazer nascer o montante necessário ao arranque de um negócio ou que, numa outra opção ainda mais parva, se ponha a pedir dinheiro emprestado para o tal projecto e ainda fique em piores lençóis, não é?

Não!, diz o Estado, porque o retorno do investimento vai resolver o problema do endividamento e incrementar a prosperidade!

Mas... Espera lá. Se um negócio implica vender alguma coisa a alguém e esse alguém (que são os portugueses todos, a começar pelo Estado) não pagam a tempo de se cumprir as prestações dos empréstimos contraídos para fazer o investimento no negócio, de que merda - literalmente - de retorno é que eles estão a falar?!

Buraco tapado por Citadina às 16:57
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Segunda-feira, 19 de Maio de 2008

Cal Submersa

Consta que esta senhora vai publicar um livro.

Isso explica muita coisa, nomeadamente um lato desaparecimento. Não que se justificasse explicação alguma, não se trata de necessidade e muito menos de obrigação. Trata-se apenas de entender melhor as razões para tamanha acumulação de saudade.

Compreende-se agora que andou a fazer o que melhor sabe (tanto quanto alcança o meu conhecimento, longe de mim privá-la de alguma virtude!).

O livro chama-se Cal Submersa. Escusado será dizer que mesmo que se chamasse "Poia Cor de Rosa - um ensaio sobre detritos tóxicos" eu iria comprá-lo na mesma, porque a amizade é assim.

Mas não. Chama-se Cal Submersa. O que só por si me levaria a comprá-lo, mesmo que não fosse amiga de nenhuma das autoras.

De qualquer das formas, o Cal Submersa junta-se à colecção dos objectos incontornáveis da minha vida, sendo que este é um objecto futuro (e os objectos podem ser coisas apenas palpáveis ou podem existir muito para além do tacto, como é o caso dos livros).

Quanto ao blog da Nnannarella, como mudou de nome, também vai mudar de sítio aqui ao lado na lista de links. Vai para o N, onde sempre devia ter estado, porque a alma é quem manda.

Buraco tapado por Citadina às 14:41
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Sexta-feira, 16 de Maio de 2008

Os benefícios da ameaça comunista

É só ameaçar que vamos todos desatar a ir a Cuba (ui, medo, horror!) operar as cataratas para aparecer o dinheiro e as soluções que vão pôr termo às listas de espera.

Por outro lado, quando interessa, a Venezuela já é um país muito democrático, com eleições justas e frequentes, com liberdade de imprensa e tudo o mais que define uma democracia saudável.

Se a hipocrisia pagasse imposto...

Buraco tapado por Citadina às 09:48
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Quinta-feira, 15 de Maio de 2008

Mitos

Há assuntos em que prefiro o imaginário à realidade. E, aparentemente, não serei a única. Por exemplo:

Há restaurantes, tascas, etc., nas quais gosto particularmente de comer e onde nunca por nunca entraria na cozinha. Poderia correr o risco de nunca mais lá conseguir voltar.

Do mesmo modo, há actores, actrizes, encenadores que me marcaram de forma singular. Talvez porque tenham morrido demasiado cedo e permaneçam eternos no seu glamour ou apenas porque nunca os conhecemos pessoalmente nem a sua forma de pensar. Veja-se o caso da Marilyn Monroe, do James Dean e, mais recentemente, do promissor actor Heath Ledger e veja-se o caso da Brigitte Bardot, tão cantada na sua juventude por Miguel Gustavo, entre outros, e tão contestada hoje pelas razões opostas: a sua degradação física e, para mim, sobretudo por incitar ao ódio racial, por atacar gays, imigrantes e desempregados, enquanto gasta fortunas com animais. A canção de Tomzé sobre ela chega a ser cruel de tão verdadeira:

 

“A Brigitte Bardot está ficando velha,
envelheceu antes dos nossos sonhos.
Coitada da Brigitte Bardot,
que era uma moça bonita,
mas ela mesma não podia ser um sonho
para nunca envelhecer.

A Brigitte Bardot está se desmanchando
e os nossos sonhos querem pedir divórcio.
Pelo mundo inteiro
milhões e milhões de sonhos
querem também pedir divórcio....”

 

 

Há escritores, poetas, cantores que evitarei a todo o custo conhecer sob pena de a sua obra, independentemente da qualidade, ser adulterada pela personalidade do autor.

Há paixões e amores que nunca quis nem quererei viver. Prefiro uma boa e sólida amizade ao desencanto e afastamento que a tentação de os viver pudesse provocar. Nisto também não estou só. Reinaldo Ferreira, o meu poeta favorito, no seu livro “Um vôo cego a nada” no capítulo sobre Algumas breves poesias de amores fictícios, tem este poema magistral:

 

“De Copélia guardo três cartas melancólicas,
Um laço e, de uma rosa
Que o perfume aprendeu nos seus cabelos,
Um esvaído botão.
Evade-se do todo um halo a antigo, triste.
Claro que Copélia não existe
E as cartas também não.
Só é real porque me falta.
Porque a não tive creio nela e creio
Na memória de quem foi no meu passado;
Nos passeios furtivos que tivemos;
Nos astros que pusemos
Nalgum beijo trocado;
Na exaltação de certa dança, alada
Na sensação de que uma nuvem me enlaçasse;
E na suave e pura e filtrada emoção
De alguma vez que a sua mão
Entre as minhas tardasse.
Esta é Copélia a quem, se acaso dado fosse
Nascer ou ter vivido,
Rígido pai ma recusasse,
Lírico mal ma arrebatasse
Sem a ter possuído,
Para que doutro ou morta virgem
Ilesa e viva dentro de mim permanecesse."

 

Como diria alguém de cujo nome não me recordo “A melhor forma de manter vivo um sonho é nunca o concretizando.”.

Buraco tapado por Cosmopolita às 11:38
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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Terapia da formação superior: sessão 1

Vocês sentem-se orgulhosos da vossa licenciatura e dos prefixos Dr. ou Eng. nos cartões de crédito gold e nos extractos mensais do Corte Inglés, ai que vergonha se não estivessem lá e essas merdas, não é?

Eu também gostava que me bastasse isso para me sentir melhor, mas infelizmente não. Há um trauma que ainda não consegui ultrapassar passados tantos anos, não importa quão farta esteja do cabrão do meu psiquiatra, que só quer falar de sexo. Sexo com o pai, sexo com a mãe, sexo do pai, sexo da mãe e outras variantes do mesmo tema que já não posso aturar.

Mas ia a dizer, não gosto da minha licenciatura nem da minha faculdade, aliás, a segunda chega a dar-me vómitos e nem sequer me consigo aproximar do edifício sem ficar deprimida. A verdade* é que passei quatro anos da minha vida a ser ostensivamente desprezada por respeitar mais as pessoas e os animais do que os números e os ganhos de eficiência económica decorrentes da extinção das baleias, cœteris paribus, que é como quem diz, o resto não interessa nada, até porque cenas como o legado histórico e a biodiversidade são um bocado difíceis de quantificar numa curva de ultilidade por serem subjectivas como o caralho.

Tudo o que não cabia no modelito cujas premissas oravam aquela missa do "num cenário de concorrência perfeita, informação perfeita, agentes económicos racionais, inexistência de barreiras à entrada e ausência total de emoção" era considerado irrelevante economicamente o que na prática significa apenas que tais fenómenos não eram tão selvaticamente liberais quanto desejável para que o grande capital pudesse ter o controle absoluto da humanidade.

É demais, foram anos e anos a pregarem-me aquele sermão como se fosse de uma exactidão inatacável quando é óbvio para TODA a gente fora daquelas paredes pseudo-iluminadas que a única "realidade" que o tal "cenário" poderia reflectir eram os sonhos (infantilóides, no fundo) de conquista do Mundo pela lei do mais forte afastando os fracotes do caminho porque eles só empatam e perturbam os níveis de eficiência, produtividade, etc..

Sabemos que Darwin observou este tipo de comportamentos nos animais irracionais mas talvez, digo eu, a teoria da evolução seja de difícil aplicação à nossa espécie dado um pormenor ou outro da complexidade humana, mas só talvez.

No entanto, inegável é que estes "iluminados" chegam aos governos e não acertam numa que seja, é humilhações dia após dia em directo no jornal da noite, "pois eu sei que afirmei isso na semana passada mas entretanto a conjuntura alterou-se...", e o pessoal todo a rir-se alarvemente deles como quem lhes cospe nas trombas, agora venham lá dizer que nós é que somos uns irracionais e que o modelo é que está certo e que se agíssemos todos como "era suposto" (=máquinas) isto corria tudo às mil maravilhas, vá cabrões!!
 

E pronto, foi a primeira sessão (e provavelmente a última) da terapia assexuada e auto-didata para tentar resolver os traumas da minha formação, muito obrigada e até para a semana.

 

* Aquilo dos quatro anos é mentira, na verdade foram seis só que os outros dois que lá passei não custaram tanto porque eu nunca ia às aulas e só fazia coisas fixes. Chumbava como o caralho, é certo, mas, pá...

 

Buraco tapado por Citadina às 15:18
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Segunda-feira, 12 de Maio de 2008

Poema narcótico

Ontem comecei a sonhar algum tempo antes de adormecer.

Sonhei que os anos 80 me perseguiam a alta velocidade, num veículo de vidros fumados onde se escondiam todas aquelas modas carentes de sentido estético e sobriedade psicotrópica.

Acordei sobressaltada ainda antes de cair no primeiro sono.

Constatei que não era sonho, era a realidade a acontecer no meu quarto: a minha mulher dizia-me que tinha encontrado numa velha agenda um poema que (lhe?) escrevi há anos e que era muito bonito.

"O que dizia o poema?"

Não sabia. Deu-me um comprimido para dormir e diz que o recitei toda a noite.

Hoje de manhã acordei com a cara inchada, mas (ainda) não me lembrava de nada.

Buraco tapado por Citadina às 15:38
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Sexta-feira, 9 de Maio de 2008

Portugal: uma off-shore do crime urbanístico

Já defendi anteriormente neste blog a importância crescente das organizações de defesa de cidadãos e das associações ambientais. A Quercus e a Geota apresentaram uma queixa nas instâncias europeias e interpuseram uma providência cautelar em Maio de 2006 relativamente à construção de dois dos três complexos turísticos aprovados pelo Governo em áreas protegidas, nomeadamente no Sítio de Importância Comunitária (SIC) Comporta/Galé, concelhos de Grândola e Alcácer do Sal.

 

São eles a Herdade Costa Terra (1.350 hectares, ocupando 200 hectares na construção de 204 moradias, três hoteis, 5 aparthotéis, quatro aldeamentos turísticos e quatro condomínios de apartamentos de luxo, zonas de lojas e escritórios, um campo de golfe de 18 buracos, um centro hípico, dois campos de ténis, uma clínica de medicina desportiva, geriatria e talassoterapia, dois clubes de um fórum comercial e um centro ecuménico); a Herdade do Pinheirinho (8000 hectares, ocupando 120 hectares com construção de dois hotéis, três aldeamentos turísticos, quatro aparthotéis e 204 moradias, um espaço comercial e 90 hectares com um campo de golfe de 27 buracos); e a Herdade da Comporta (12 500 hectares, com a ocupação de 742 hectares de construção, dos quais 365 no concelho de Alcácer do Sal e 377 no de Grândola que incluem 14 aldeamentos turísticos, 250 moradias e três campos de golfe, 6 hotéis, 2 aparthotéis).

 

Os complexos turísticos mencionados abrangem assim cerca de 1.200 hectares de construção junto às praias, a meia dúzia de km uns dos outros, que incluem cinco campos de golfe, 21 aldeamentos turísticos, 658 moradias e 22 hotéis e aparthotéis, representando um total de mais de 16.000 camas. Para quem conhece esta região do litoral alentejano pode imaginar o que isto significa em termos de descaracterização destas zonas e de impacto ambiental. Ainda por cima ficam em plena Rede Natura 2000 (Herdade do Pinheirinho e Herdade Costa Terra), ou Rede Natural/Reserva Natural do Estuário do Sado/Reserva Ecológica Nacional/Reserva Agrícola Nacional (Herdade da Comporta)!

 

Apesar de o Ministério do Ambiente e do da Economia serem da opinião de que há utilidade pública nestes projectos PIN (Potencial Interesse Nacional) , as obras foram suspensas pelo Tribunal Fiscal e Administrativo de Lisboa em Fevereiro deste ano.

 

Além disso a Comissão Europeia abriu este mês um processo de infracção contra Portugal pela falta de medidas de protecção ambiental e incorrecções das avaliações de impacto ambiental feitas, uma vez que “descuraram os impactos negativos dos projectos nos habitats e espécies prioritárias do SIC, não avaliaram os impactos cumulativos dos diversos projectos nem os impactos cumulativos com outros projectos previstos para o mesmo sítio, além de não terem analisado devidamente soluções alternativas”.

 

O ministro do Ambiente, Nunes Correia, garantiu entretanto que o Governo cumpriu todas as regras comunitárias na aprovação, que “os estudos de impacto ambiental foram feitos com grande rigor” e ainda que não tem dúvidas de que “tudo se vai esclarecer”, ficando “a seu tempo” o problema resolvido.

 

A este propósito quero recordar aqui o que disse Maria José Morgado nas jornadas de divulgação do estudo sobre o fenómeno da corrupção em Portugal. A magistrada considera “urgentíssima” a incriminação das condutas contra o ordenamento do território e defende a consagração no Código Penal da figura do “crime urbanístico”, tal como sucede em Espanha. Com a não criminalização das condutas contra o território, “mantemos em Portugal um ‘offshore’ do crime económico”.

 

Se pensarmos que no estudo referido acima 29,8% das queixas de corrupção activa por área de actividade dizem respeito ao sector da construção civil e obras públicas, e que a administração local - Câmaras Municipais e os órgãos do poder autárquico - estão em 1º lugar na lista dos mais investigados por corrupção, representando 50 por cento dos casos denunciados em matéria de corrupção passiva, então podemos perceber as consequências da transferência do poder de delimitação da REN para as autarquias!

 

Sobre isto vale a pena ler este post do Zero de Conduta, bem como o comentário ao post feito por Daniel Abreu.
 

 

Buraco tapado por Cosmopolita às 15:22
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Quinta-feira, 8 de Maio de 2008

Ei-los que partem

Por razões profissionais, de sobrevivência e um certo espírito aventureiro, tive de viver por largos períodos da minha vida emigrada. Como referi aqui, recuso-me a viver com uns míseros tostões ou de subsídios de desemprego e sem trabalho ou feita pária à força pelo próprio sistema que vigora em sucessivos (des)governos no meu País. "O trabalho dignifica o Homem" é uma filosofia de vida que mantenho desde sempre e que tentei transmitir aos meus filhos.

Julgo que ninguém que não tenha estado emigrado pode perceber na sua plenitude o que isto significa. Estar longe dos filhos, pais, amigos, da cultura, da comida, do clima, de tudo o que nos atrai e identifica com um determinado sítio. O desenraizamento, a solidão e a saudade são os sentimentos mais dolorosos que nos avassalam então.

Tenho trabalhado sempre em equipas masculinas e em países em que tenho sido, quase sem excepção, a única mulher estrangeira a trabalhar. Estivemos em sítios que não lembra ao diabo. Convivemos com povos e culturas que são desconhecidos para a maior parte das pessoas. Comemos coisas estranhíssimas e outras maravilhosas. Viajámos em executiva e em aviões a cair de podre e sem manutenção. Vivemos em hotéis de cinco estrelas e em autênticas espeluncas. Apanhámos dos 50 graus à sombra até aos 40 graus negativos e às tempestades de neve que nos conservavam vestidos e sem dormir por 3 dias em aeroportos apocalípticos. Conhecemos técnicos extraordinários e pessoas impolutas e dignas e conhecemos mafiosos e crápulas de toda a espécie.

Chorei muitas vezes em privado, tal era a solidão e o sofrimento que a distância dos meus me causava. Do mesmo modo, nunca vi os meus colegas queixarem-se em público, nem chorar nem deprimir. Eles tinham uma forma própria de combater a solidão: arranjavam namoradas, putas ou outras formas de substituição temporária de afecto.

Ouvi muitas confidências deles. Estavam ali, tal como eu, na frente de batalha, para sustentar as famílias e por falta de oportunidades em Portugal, quer devido à sua profissão, quer devido ao facto de Portugal mal lhes pagar para sobreviverem. Amavam as mulheres, mas desorientavam-se por vezes com outros afectos. Um provável complexo de culpa fazia com que recorressem a mim para tentar expurgá-la à laia de confissões livres de condenação. Sabiam que eu guardaria segredo, que os aconselharia, que não os julgaria à luz de dogmas moralistas. Era como se fossemos uma família em que cada um se preocupava genuinamente com todos e cada um dos outros.


Quando se deu a dissolução da URSS, ouvi muita gente de lá revoltada com a perda da maior riqueza que um País pode ter: a fuga dos seus melhores quadros. Cientistas, quadros técnicos, músicos, ginastas, artistas, escritores.

Em Portugal é ao contrário. Que nos vamos embora é o que nos desejam e incentivam a fazer. Hoje em dia são cerca de 5 milhões os portugueses emigrados, sem que haja fascismo que o justifique. Faz-me sempre lembrar aquela canção de Manuel Freire:

“Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não”

Buraco tapado por Cosmopolita às 11:35
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Segunda-feira, 5 de Maio de 2008

Lesboa: após a consagração, que fazeis pela manutenção?



Estamos em mês de Lesboa Party. Para a VIII edição, a Entre Vírgulas, empresa organizadora do evento, escolheu o cartaz em cima reproduzido.

Não obstante existir uma espécie de ligação emocional generalizada ao Pavilhão de Exposições do Instituto Superior de Agronomia, acho positivo que a organização experimente novos espaços. Umas vezes sai-se melhor, outras pior, mas quand même, é bom e pedagógico variar. Desta vez propõe-se um espaço ultra avant-garde em conceito, mas que deixa algumas questões no ar sobre como responderá em termos de funcionalidade e conforto. A organização ainda não divulgou se haverá multibanco, quantas casas de banho estarão disponíveis e quantos bares, se haverá snacks à venda e se se acomodarão zonas sentadas suficientes, items que constituem os habituais calcanhares de Aquiles das edições anteriores. Esperemos para ver.

O elenco está a ser dissecado no blog da Lesboa, obviamente para promover uma escolha de ilustres desconhecidos, por muito que a organização o negue. No entanto, verdade seja dita, os "cabeças de cartaz" nunca foram um elemento determinante na afluência do público. As pessoas vão à Lesboa pelo conceito e não para ver o espectáculo de música ao vivo que vem por acréscimo na compra do bilhete. Nesse capítulo, já houve edições em que nomes sonantes foram uma estrondosa desilusão e já houve outras em que desconhecidos levaram o público ao rubro (não foi o caso da última edição, em Monsanto, onde uma banda brasileira fez esperar e desesperar até às 4 da manhã para se limitar a desiludir numa actuação medíocre e que, depois de tanta espera ansiosa, pareceu durar uns meros 10 minutos). De qualquer modo, se por um lado a animação é essencial num evento deste tipo, por outro as escolhas não têm sido determinantes nem aglutinadoras. Ou seja: se a organização pretende capitalizar a adesão por essa via, terá de fazer (bem) melhor.

A confiar nos números divulgados pela Entre Vírgulas (e eles lá devem saber quantos bilhetes vendem e quantas pessoas "carimbam" à entrada), os níveis de frequência, grosso modo, têm sido os seguintes:

Lesboa I (30 de Setembro de 2006, Gare Marítima de Alcântara): 1500 pessoas (eram esperadas 800);
Lesboa II (2 de dezmbro de 2006, Pavilhão de Exposições do ISA): 1200 pessoas;
Lesboa III (17 de Fevereiro de 2007, edição de Carnaval, Pavilhão de Exposições do ISA): 1700 pessoas;
Lesboa IV (5 de Maio de 2007, Armazém C2, Docas de Alcântara): 1600 pessoas;
Lesboa V (30 de Junho de 2007, Quinta Pau de Bandeira, Pragal, Almada):  900 pessoas;
Lesboa VI (28 de Setembro de 2007, comemoração do 1º aniversário da Lesboa, Pavilhão de Exposições do ISA): 1600 pessoas;
Lesboa VII (4 de Fevereiro de 2008, edição de Carnaval, Quinta de Casal de Paulos, Monsanto): 1100 pessoas.

Daqui podem tirar-se algumas ilações e reflexões:

Logo desde a primeira edição se constatou que há um espaço a explorar ao nível dos eventos (não políticos) dirigidos à comunidade lgbt em geral e às lésbicas em particular. Este aspecto é importante porque até dentro da comunidade lgbt as mulheres parecem estar remetidas para segundo plano em termos de opções (ou falta delas) sociais de lazer e convívio. Nesse aspecto, o nome do evento é dos mais bem conseguidos em várias décadas, a nível nacional e internacional.

Com a segunda edição veio a desmistificação do receio de "fenómeno isolado" e a consagração como evento de referência na comunidade lgbt. A Lesboa Party é, hoje me dia, a festa lgbt da cidade, sendo que este é um "trono" que traz responsabilidades.

A Lesboa conseguiu afirmar-se como um dos melhores (se não o melhor) programas de Carnaval na cidade de Lisboa, já com duas edições bem sucedidas (Lesboa III e Lesboa VII), ocupando hoje um espaço considerável nesse nicho que pelos vistos tem mercado para além dos tradicionais desfiles.

Lesboa Parties fora de Lisboa, como foi a edição V, em Almada, não parecem cativar a adesão do público. Eu pessoalmente não percebo porquê, até porque neste caso específico me constou que o local foi muito bem escolhido do ponto de vista da beleza, comodidade e adequação ao evento. Mas enfim, como anteriormente referi, há os factores emocionais a considerar e aqui terão sido eles a criar uma certa rejeição à ideia. Outro factor que pode ter vaticinado a menor frequência de sempre terá sido a (péssima) escolha da data, que coincidiu com o Europride 2007 em Madrid, provocando uma lamentável (e evitável) dispersão do público-alvo.

Sendo assim e no que toca à oitava edição, será maximizador da afluência fazer a festa no meio de um fim de semana prolongado? É o que veremos. Eu tenho as minhas dúvidas, sendo que não estamos exactamente no Carnaval e especialmente levando em conta a avidez por sol e mar com que muita gente anda. Eu diria que a escolha desta data comporta um risco desnecessário. Este tipo de erro, a comprovar-se, não será o primeiro pelo que deixa de ser aceitável e pode sair muito caro a uma marca que custou tanto a construir e é tão importante no panorama lgbt da cidade de Lisboa e do país.

Na tag "eventos" deste blog poderão encontrar tudo o que eu disse em posts passados sobre a Lesboa Party.

Buraco tapado por Citadina às 10:58
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