Vieram-me à cabeça as questões de princípio, que me ocorrem aliás com uma certa frequência, a propósito do post da Citadina
"Vontade de insultar escroques", que deu origem a
outro post da Duca, que eu comentei.
Uma das razões por que muitos portugueses se queixam muito, mas nada fazem para mudar as causas dessas queixas deve-se ao facto de 40 anos de fascismo e laxismo terem anulado neles a capacidade de lutar, quanto mais não seja por uma questão de princípio, pelos seus direitos. Não votam, não participam em actividades políticas a não ser por questões oportunistas, não se revoltam de uma maneira geral. Ou seja, falam, falam, falam, mas não dizem nada e fazem menos ainda.
Estou emigrada, porque me recuso a viver sem trabalhar, ou a sobreviver com uns míseros tostões, ou a depender da segurança social. Mesmo que isso me custe ter de viver longe das pessoas que amo. É a minha maneira de dizer não a um país que proletariza os seus quadros técnicos, enquanto apregoa que os trabalhadores portugueses precisam de formação! Há em Portugal milhares de quadros licenciados e doutorados que não têm emprego. Ou que recebem salários de miséria. Ou que trabalham como amanuenses.
O direito e a obrigação de trabalhar eram direitos e deveres fundamentais dos países socialistas. Porque o trabalho dignifica o homem e lhe é fundamental para a sua sanidade mental, para ser feliz. Hoje um emprego raramente se consegue por competência e/ou habilitações. Como em tudo o resto, e não só na Madeira, reina o compadrio.
O direito ao aborto foi já consagrado em lei. Que na prática não será cumprida. Ou que será, como tudo, apenas para quem possa pagar.
Lutar pelo direito à habitação é uma questão de princípio. Que não é respeitado. O direito à saúde e à educação também. Não sei se se lembram da canção do Sérgio Godinho “A paz, o pão, a habitação, saúde, educação…”?
Nenhum destes direitos é respeitado e são poucas as pessoas já que lutam por direitos tão fundamentais como estes. Como disse acima, quanto mais não seja, por questões de princípio. Pelo exercício dos seus direitos.
Fui educada por uns avós e uns pais notáveis nesse aspecto. Muitas vezes no desnorte da vida me oriento pelos exemplos que recebi deles e que tentei, de alguma maneira, transmitir aos meus filhos. Julgo que com alguns resultados.
Há muitos anos, estava a dizer a um colega, que a educação que me tinha sido transmitida e que eu tentava transmitir aos meus filhos, pequenitos na altura, os iria fazer falhar na vida. Os bons princípios não dão hoje de comer a ninguém!
Não denunciar. Ser leal. Ser honrada. Não recuar perante as adversidades. Enfrentar os meus medos. Ser persistente. Ser trabalhadora. Ser competente. Ser vertical. Cultivar o espírito. Aprender até morrer. Cumprir com as minhas obrigações de cidadã. Ser interveniente politicamente. Assumir responsabilidades. Ser verdadeiramente amiga. Não cultivar intrigas. Não ser vingativa. Não bajular. Ser frontal. Não subir na carreira à custa de atitudes indignas. Reflectir sobre o mundo.
E por mais que a vida me demonstre que eu devia ser o contrário de tudo isto, não consigo. Os princípios que me foram inculcados estão demasiado arreigados no fundo de mim mesma. E, por muito que pareça às vezes uma perda de tempo ou estupidez para quem me rodeia, uma questão de princípio mexe sempre comigo. Tenho de lutar pelos meus direitos. Por uma questão de princípio. É inevitável. Foi-me ensinado a não viver de joelhos!