Em conversa com uma amiga, surgiu a seguinte questão, que é aliás recorrente nos dias de hoje: Será o ser humano infiel por natureza?
Será a fidelidade uma construção criada pelas sociedades para garantir que a propriedade privada passe de membros de uma mesma família para outros dessa mesma família? Ou terá sido imposta por razões religiosas? "Não cobiçarás a mulher do outro"?
Ou terá antes a ver com o desejo de posse e sentido de propriedade? De controlo do outro? O medo da solidão? A insegurança?
Será que estamos a contrariar um impulso perfeitamente natural através de mecanismos de culpabilização e falsos critérios éticos e morais?
metendo a foice em seara alheia... como se costuma dizer... apenas uma questão... não faria mais sentido perguntar apenas o que é natural ao homem... não me parece que a fidelidade e a infidelidade sejam por si mesmas naturais ou anti-naturais ... mais do que uma característica essencial disso que é ser homem... parece-me que são sim uma consequência comportamental daquilo que nos é natural... ou seja... considero que não somos naturalmente fiéis ou naturalmente infiéis... o que nos é natural é procurarmos ser felizes... independentemente do que se possa entender por felicidade... sendo nós fiéis ou infiéis em função do contributo que esse comportamento pode dar para alcançar aquilo que me parece ser-nos natural... a procura incessante da felicidade!
Minha cara, continuo a achar que somos todos potencialmente infiéis mesmo que apenas a nível do pensamento.
Concordo com a Nnanna e com o Celtic quando dizem que existem relações em que a palavra infidelidade sai do dicionário. Masmo que, provavelmente, elas não durem para sempre.
Concordo contigo e com o Celtic, tanto que o refiro no meu comentário ao que a Inha disse, que tem tudo a ver com o ser-se mais ou menos feliz de uma maneira ou de outra.
Durante muitos anos e até ter visto o "Closer", nunca me tinha interrogado a sério sobre a questão de, havendo amor numa relação, esta poder acabar. Aquela frase "Why isn't love enough?", deixou-me varada! Até porque fiquei muito marcada por uma colectânea de contos de escritores portugueses que li aos 11 anos e que se chamava "Amar é sofrer".
Depois percebi que o amor não era, por si só, suficiente para uma relação se manter, que tinha também de nos fazer felizes, pois é esse o seu fim último e o mais importante.
Isto é verdade para todos os amores, sejam eles de casal ou não. As relações são como plantas que precisam de ser regadas, senão secam e morrem, deixam de fazer sentido, tornam-se fontes de sofrimento, de angústia, de infelicidade.
As de casal, em especial, precisam de ser cultivadas, porque se convive de forma muito mais íntima. Tem de haver um pouco mais de tudo: amor, amizade, bem estar sexual (é fundamental), respeito, admiração, ternura, compreensão, capacidade de cedência, de construção de projectos comuns, solidariedade, empenho, entrega, cerimónia. Tem de haver algum romantismo de vez em quando e é fundamental haver liberdade e confiança para que as pessoas não se sintam presas, não se façam cenas degradantes e não se anulem enquanto seres individuais.
Todas estas condições são tão raras de conseguir e de manter que julgo que é por isso que esta questão da (in)fidelidade e da duração das relações é tão complexa.
Mas como diria uma pessoa que conheci "Mais vale um fim horrível que um horror sem fim"...
Minha querida amiga, se acreditamos em todas estas coisas sobre a (in)fidelidade, então porque nos é tão difícil aceitá-la? Não deveríamos conseguir trabalhar a nossa capacidade de acomodar a "pequena" traição? A pequena, porque a grande presumo que tenha um significado diferente e um impacto inevitavelmente mais sério. Como se mede a dimensão da traição? Pois... nível de afectividade pelo "outro", sei lá... Andamos para aqui às voltas com estas questiúnculas todas e os dias a passar. Dias que já não voltam, horas que se perderam. Isto não é fácil, de facto. Olha, quando nos vemos?