Referências a mulheres, só constam as seguintes:
3.1. Emprego (pág 17)
"A oferta de trabalho tem sido marcada ao longo dos últimos anos pela tendência ascendente da taxa de actividade, que reflecte, entre outros factores, a crescente participação das mulheres no mercado de trabalho, a dinâmica demográfica e a promoção do envelhecimento activo através de políticas de retenção no emprego dirigidas aos grupos etários mais avançados. No entanto, o impacto de alguns destes factores tenderá a diminuir ou mesmo extinguir-se, assumindo-se uma estabilização da taxa de actividade em valores próximos de 74 por cento, a que corresponde um crescimento da população activa ao longo do horizonte de projecção inferior ao aumento médio registado nos últimos anos."
Daí extrapolar que: "Dizem as estatísticas que uma das causas do desemprego em Portugal é o género feminino. Muito simplesmente porque, por cá, há muito mais mulheres a querer trabalhar.", é completamente ridículo e misógino.
Como assim?
Concorde-se ou não com a tese de Luis Ribeiro, o texto citado neste post (ou, pelo menos, a parte a bold) até vai de acordo ao que ele diz.
Caro Miguel Madeira,
Antes de mais, obrigada pelo seu comentário e seja bem-vindo, como comentador, a este blog.
Pelos vistos, discordamos em absoluto neste tema, mas tenho todo o prazer em lhe poder apresentar os meus argumentos.
Num primeiro aspecto, seja quem for que acha - o Banco de Portugal ou o Sr. Luís Reis Pereira ou quem quer que seja - que as mulheres deviam era ficar quietinhas em casa a fazer lavores e sob nenhum pretexto desatar para aí a procurar emprego que é para não estragar as estatísticas e as taxas de desemprego, é de facto, um misógino primário. E burro também.
Porquê? (Tenho mesmo de explicar?...) Porque me parece que está escrito em algum lado - acho que é na Carta dos Direitos Humanos, na Constituição da República Portuguesa e noutros documentos assim de somenos importância, que ninguém lê, é verdade, mas está lá - que os cidadãos são todos iguais em direitos e deveres perante a sociedade.
Ora isto tem duas implicações:
1) Como sabe a tradição já não é o que era, portanto agora eu sugiro que sejam os homens - para variar - a ficar quietinhos em casa a fazer lavores e a cuidar dos pirralhos, enquanto as mulheres provam as suas potencialidades no mercado de trabalho. Assim também deixa de haver gente a mais no mercado de trabalho e já não se estragam as estatísticas.
2) Quem concebeu (ou concordou ou se absteve ou assobiou para o alto ou deu continuidade, etc.) às políticas que originaram esta situação de, em menos de duas gerações, subitamente um rendimento por agregado familiar já não garantir uma subsistência digna e muitas vezes, já nem dois, esses obreiros, dizia eu, são normalmente os mesmos que dizem pataquadas como esta ao mesmo tempo que agradecem aos santinhos o rendimento extra que o/a seu/sua companheiro/a leva para casa.
Mas respondendo concretamente à sua pergunta:
Não, o texto citado não “vai de acordo ao que ele diz” por duas (também...) razões:
1 - “Oferta de trabalho” não é o mesmo que desemprego, ou taxa de desemprego (também tenho de explicar porquê?... OK). Bem, para começar, taxas são medidas relativas, que expressam uma grandeza em função de outra, neste caso, o número de desempregados em relação à população activa. Oferta de trabalho é uma grandeza absoluta, daí que a extrapolação seja, como dizer isto... burra.
2 – O que as estatísticas transmitem é que a taxa de actividade, ou seja a população activa relativamente à população total, aumentou e não que as mulheres são as causadoras da taxa desemprego, o que são duas coisas bem diferentes. Mas admitindo-se – porque é verdade – que há (cada vez) mais mulheres na população activa, isso é que causa desemprego?! Quando muito contribui para um aumento da taxa de desemprego – volto a chamar a atenção para a diferença de conceitos e definições – assim como contribuem outros factores mencionados pelo Banco de Portugal. Mas não, o misoginozinho de merda que escreveu isto tinha de ir pegar precisamente neste – porquê?! Porque é o mais importante? Relevante? – só para descarregar as suas frustrações e complexos de inferioridade em relação ao sexo oposto...
Ora, caro amigo - e desculpe o abuso, assim, sem mais nem menos – convenhamos que não foi isto que o Banco de Portugal disse nem quis dizer.
"Pelos vistos, discordamos em absoluto neste tema"
Talvez não em absoluto - a minha discordância é apenas a nível do argumento utilizado.
É verdade que "oferta de trabalho" não é igual a "desemprego", mas, se tudo o resto se mantiver igual (nomeadamente a procura de trabalho), quanto maior a oferta de trabalho, maior o desemprego.
Pronto, então ainda bem que não discordamos em absoluto, ao ler o seu blog também não me parece que isso seja possível. Pelo menos "em absoluto".
Quanto ao mais, creio que quis dizer que quanto maior a oferta de trabalho (ceteris paribus) maior o emprego (e não o desemprego), correcto?
O problema é que o resto não se mantém igual, dado que a volatilidade do mercado de trabalho é sobejamente conhecida (vide as variações mensais na taxa de desemprego, para já não falar nas variações de tipos de desemprego), mas há esperança, a avaliar pelo que diz o BP: "No entanto, o impacto de alguns destes factores tenderá a diminuir ou mesmo extinguir-se, assumindo-se uma estabilização da taxa de actividade em valores próximos de 74 por cento, a que corresponde um crescimento da população activa ao longo do horizonte de projecção inferior ao aumento médio registado nos últimos anos."
Mas, perdoe-me a insistência, continuo a não vislumbrar a relevância que isso possa ter para o assunto, uma vez que continua a não ser verdade que as estatísticas digam que "uma das causas do desemprego em Portugal é o género feminino. Muito simplesmente porque, por cá, há muito mais mulheres a querer trabalhar."
Finalmente, permita-me uma pequena observação: "procura de trabalho" conceptualmente não existe. O que existe é procura de emprego. Os empregadores oferecem trabalho e os trabalhadores procuram emprego.
Mais uma vez, agradeço a visita e o comentário.
"Quanto ao mais, creio que quis dizer que quanto maior a oferta de trabalho (ceteris paribus) maior o emprego (e não o desemprego), correcto?"
Não - é mesmo quanto maior a oferta de trabalho, maior o desemprego.
O problema é que, no dia-a-dia, tendemos a usar a expressão "oferta de trabalho" e "procura de trabalho" ao contrário do seu significado "técnico" - "oferta de trabalho" são os trabalhadores que "oferecem" (i.e., poem à venda) o seu trabalho, e "procura de trabalho" são as empresas que procuram trabalhadores, mas, na linguagem quotidiana temos a mania de dizer que são as empresas que "oferecem trabalho" e que os potencias trabalhadores "procuram trabalho" (ou emprego)
Caro Miguel,
Então lamento dizer-lhe que está incorrecto. Em qualquer manual da especialidade poderá verificar que, tudo o resto constante, quanto maior a oferta de trabalho (que consiste no número de postos de trabalho que os empregadores disponibilizam no mercado para os trabalhadores), maior o emprego, até se atingir o pleno emprego, que consiste, como o nome indica na inexistência de desemprego. Por isso é que se fala, por exemplo, em "as empresas criarem postos de trabalho".
Do mesmo modo, se a procura de emprego, por parte dos trabalhadores (ou de trabalho, se quiser utilizar uma expressão do dia-a-dia) aumentar, ou seja se houver mais pessoas a procurar emprego (com a oferta estática) isso gera um aumento do desemprego, e daí a minha observação no comentário anteiror.
De modo que, mais uma vez, não: os termos técnicos correctos, como também poderá verificar nos manuais são, de facto, "procura de emprego" e "oferta de trabalho", sendo que "procura de trabalho" é que é uma expressão técnicamente incorrecta da linguagem quotidiana.
Contudo, eu entendo o seu ponto de vista, embora ele seja inexacto nas definições, e se me dispusesse a aceitá-lo como correcto - que, desculpe, não é - dar-lhe ia razão quando diz que "quanto maior a oferta de trabalho, maior o desemprego". No entanto, o seu conceito de "oferta de trabalho" está invertido, porque assume que são os trabalhadores a oferecer trabalho, e isso não corresponde à realidade de uma economia de mercado, com muita pena minha acredite!
"De modo que, mais uma vez, não: os termos técnicos correctos, como também poderá verificar nos manuais são, de facto, "procura de emprego" e "oferta de trabalho", sendo que "procura de trabalho" é que é uma expressão técnicamente incorrecta da linguagem quotidiana."
não tenho nenhum manual de economia à mão, mas, se no google procurar "labour supply", vai-lhe aparecer isto (http://tutor2u.net/economics/content/topics/labourmarket/labour_supply.htm):
The labour supply refers to the total number of hours that labour is willing and able to supply at a given wage rate. It can also be defined as the number of workers willing and able to work in a given occupation or industry for a given wage
Ou seja, a "oferta de trabalho" é a quantidade de trabalho que os trabalhadores estão dispostos a fornecer aos seus clientes (as empresas)
"porque assume que são os trabalhadores a oferecer trabalho, e isso não corresponde à realidade de uma economia de mercado, com muita pena minha acredite!"
E quando eu não tinha emprego e mandava cartas para empresas dizendo "Miguel... Madeira, ...blá, blá..., vem apresentar a sua candidatura à empresa X, blá, blá..."? Estava a oferecer o meu trabalho!
Ou seja, os trabalhadores oferecem trabalho e as empresas procuram trabalho (e, em troca, as empresas oferecem e os trabalhadores procuram emprego).
Imagine-se que não estamos a falar de trabalho mas de carapaus - numa praça, quem é que procura e quem é que oferece carapaus? As pessoas que têm carapaus e querem trocá-los por dinheiro ou as pessoas que têm dinheiro e querem trocá-lo por carapaus?
Desculpem lá meter aqui uma colherada, mas em abono da verdade, o Miguel Madeira tem razão quando diz que os detentores do factor de produção "força de trabalho" é que o oferecem...
Sinto que a culpa deste mal-entendido é minha, eu é que sou a "economista" que não te explicou bem, ou não me fiz entender convenientemente, Cosmopolita. E ao Miguel também, olhe, desculpe...
Sei que a confusão provém de eu ter referido à Cosmopolita que em economia se estuda mais o nível de DESemprego que o nível de emprego no mercado de trabalho, o que inverte (ou pelo menos confunde) as dinâmicas de oferta e procura.
Enfim, coisas destas acontecem, somos humanos.
Isso não invalida que eu concorde com a Cosmopolita até ao ponto em que ela diz que "continua a não ser verdade que as estatísticas digam que "uma das causas do desemprego em Portugal é o género feminino. Muito simplesmente porque, por cá, há muito mais mulheres a querer trabalhar".
Para além de que o facto de haver mais mulheres a querer trabalhar é muito mais uma consequência do que uma causa de desemprego.
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