A propósito de felicidade e de r(a)lações afectivas, deixo-vos um video com uma canção da Maria Bethânia de que gosto particularmente. Como diz Gabriel Garcia Marques no "Memórias das minhas putas": "Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco". Abram então as janelas!
Assinalei 'brincadeira'. ''Minhas putas'', num título, tem uma conotação carinhosa, intimista e simultaneamente rebusca o lugar comum da puta como epíteto da feminilidade; senão quem, melhor que uma verdadeira pro para demonstrar a 'função fêmea' da mulher? Ora, postas de parte as ironias desta natureza, significados sectoriais associados às putas e ca. e, a este nivel de compreensão, entendo que subjaz ao título do Garcia Marques um machismo atávico que se afigura difícil de aceitar naquele autor
Meu caro pirata, devo dizer-lhe que nada em nenhum dos livros do Garcia Marques indicava que ele não fosse machista, aliás como a maioria dos homens e mulheres latinos e latino-americanos.
Como já citei algures aqui na blogosfera, um dos poemas de que mais gosto do Fernando Pessoa é um em que ele, como Álvaro de Campos, diz "Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de carácter, E simpatizo com outros pela sua falta dessas qualidades, E com outros ainda simpatizo por simpatizar com eles...", por isso, independentemente do seu machismo, continuo a gostar muito de Garcia Marques. Aliás, se eu fosse homem, e apesar de ter sido educada de forma não machista, em abono da verdade se diga que me seria quase irresistível não ser tentada a ser machista na nossa sociedade...Já imaginou o poder que os homens têm?
E acho notável que alguém escreva em título algo de tão carinhoso sobre as suas putas. Por muitas razões, que passarei a explicar-lhe.
Em Lourenço Marques, na minha juventude, tive oportunidade de frequentar durante uma data de anos alguns dos cabarets que lá havia na Rua Araújo e de conviver muito de perto com putas e travestis. São profissionais com histórias de vida muito interessantes e algumas delas até pungentes. Sabem tudo sobre os vícios privados e públicas virtudes e têm um desencanto e cinismo relativamente à vida, às pessoas e às coisas que até dói! Também se calhar não lhe passa pela cabeça a quantidade de problemas sexuais que ajudam a resolver. Sim, porque há pessoas de todas as idades, sexos, estados civis e camadas sociais que deles não prescindem. Acho por isso uma espécie de homenagem a todos eles a ternura do título de Garcia Marques.
A "brincadeira" que eu fiz foi a de citar uma frase dele que mistura o amor, algo de tão essencial à vida, mesmo que doloroso por vezes, com os signos, sobretudo tendo em atenção a música que postei.
As janelas abertas lembram-me um poema do Paul Éluard que diz
"La nuit n'est jamais complète Il y a toujours puisque je le dis Puisque je l'affirme Au bout du chagrin une fenêtre ouverte Une fenêtre éclairée"
e foi dedicado a uma amiga minha para quue ela, nesse sentido, abra as janelas.
Querida Cosmopolita, subscrevo (já subscreveria antes!) tudo o que disse e que entendo muito bem. Por inacreditável (e podia... posso! muito bem estar a mentir; mas não estou) nunca paguei a uma puta; porém, além de ter conhecido, mal, a R Araújo tive o privillégio de ter tido negociações alongadas com duas ou três profissionais em quem vi tudo-e-mais-alguma-coisa daquilo que você diz. Estranhamente coloca-se você, nesta conversa, numa aparente posição de confronto, num alinhamento que mais me parece de concordância (puta-da-internet e dos mal-entendidos que gera! A falar é qu'a gente s'entende e aqui faltam os olhos e as mãos, quando se diz...)
Um abraço Desculp'a rudeza da minha linguagem
O machismo não deve ser tido por anátema nem é um abjeccionismo, é uma qualidade histórica mas gosto todavia de gostar das mulheres como pessoas com quem falo e! que se assim não fosse (já que tanto regista o sexo) não sei com quem fodia?
Como já tive oportunidade de lhe dizer, você faz-me passar, a nível de estados de espírito, de um extremo ao outro! Tanto fico irritada consigo, como surpreendida, como me faz dar umas boas gargalhadas.
No caso específico deste seu comentário, explique-me lá por que é que, nunca tendo tido de pagar a uma puta, teve “o privilégio de ter tido negociações alongadas com duas ou três profissionais” dessas?
Depois, para mim, que profissionalmente tenho como uma especialidade muito procurada no estrangeiro a negociação de todo o tipo de contratos, grandes e pequenos, a ideia de você ter tido “negociações alongadas” fez-me ficar perdida de riso! Qual o objectivo das negociações? Não pagar?
Sim, é possível que lhe tenha parecido estar numa posição de aparente confronto consigo, mas só porque desconfio de si e jogo à defesa...Não lhe ocorre que é porque você é um tipo polémico e controverso? Mas concordo, depois do que disse, que a posição é de alinhamento e concordância.
De resto, como já disse aqui (http://azinhagadacidade.blogs.sapo.pt/38354.html), a puta da internet presta-se mesmo a este e muitos outros tipos de confusão. Para mim a presença do interlocutor, seja a que nível for, é essencial. As mãos, os olhos, o sorriso ou irritação valem mais do que mil palavras. E não usou uma linguagem rude, mas se tivesse usado estaria desculpado na mesma.
Quanto à qualidade histórica do machismo, e a propósito de sexo, sugiro-lhe que leia um livro do Alberoni “O erotismo”. Nele se fala das diferenças deste entre homens e mulheres e as razões históricas e sociais para tal.
Sendo engenheira, mas gostando muito de filosofia e sociologia, descobri o Alberoni há quase 20 anos através de um livro dele que se chama “O enamoramento e o amor”. Fiquei fascinada pelo tipo de abordagem e de análise, que nos escapa a nós técnicos de outros sectores. Fartei-me de ler os livros dele, até começar a achá-lo um bocado parecido com o Manuel Luís Goucha nos seus livros de receitas de cozinha.
Sim, é verdade que registo muito o sexo. Ele é-me essencial nas minhas relações de amor ou simplesmente eróticas. Como registo a alegria, a tristeza, a indignação e outros sentimentos que caracterizam o ser humano.
Pois...compreendo-o. No sentido em que gosta de gostar das mulheres com quem fala e...aparentemente com quem também fode! Estou a brincar consigo, claro!
Querida cunhadinha, A tua cunhada é aquela que neste blog assina "Citadina" e não a autora deste post, que é tua irmã... Já tínhamos revisto esta matéria... Beijo grande!
Estás a ver? É o que dá os alias... Rita é Rita e tu sabes logo que sou eu... E a idade não perdoa... Mas tens razão, aquele post tresandava à minha irmã!! Beijos a ambas!