Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Terapia da formação superior: sessão 1

Vocês sentem-se orgulhosos da vossa licenciatura e dos prefixos Dr. ou Eng. nos cartões de crédito gold e nos extractos mensais do Corte Inglés, ai que vergonha se não estivessem lá e essas merdas, não é?

Eu também gostava que me bastasse isso para me sentir melhor, mas infelizmente não. Há um trauma que ainda não consegui ultrapassar passados tantos anos, não importa quão farta esteja do cabrão do meu psiquiatra, que só quer falar de sexo. Sexo com o pai, sexo com a mãe, sexo do pai, sexo da mãe e outras variantes do mesmo tema que já não posso aturar.

Mas ia a dizer, não gosto da minha licenciatura nem da minha faculdade, aliás, a segunda chega a dar-me vómitos e nem sequer me consigo aproximar do edifício sem ficar deprimida. A verdade* é que passei quatro anos da minha vida a ser ostensivamente desprezada por respeitar mais as pessoas e os animais do que os números e os ganhos de eficiência económica decorrentes da extinção das baleias, cœteris paribus, que é como quem diz, o resto não interessa nada, até porque cenas como o legado histórico e a biodiversidade são um bocado difíceis de quantificar numa curva de ultilidade por serem subjectivas como o caralho.

Tudo o que não cabia no modelito cujas premissas oravam aquela missa do "num cenário de concorrência perfeita, informação perfeita, agentes económicos racionais, inexistência de barreiras à entrada e ausência total de emoção" era considerado irrelevante economicamente o que na prática significa apenas que tais fenómenos não eram tão selvaticamente liberais quanto desejável para que o grande capital pudesse ter o controle absoluto da humanidade.

É demais, foram anos e anos a pregarem-me aquele sermão como se fosse de uma exactidão inatacável quando é óbvio para TODA a gente fora daquelas paredes pseudo-iluminadas que a única "realidade" que o tal "cenário" poderia reflectir eram os sonhos (infantilóides, no fundo) de conquista do Mundo pela lei do mais forte afastando os fracotes do caminho porque eles só empatam e perturbam os níveis de eficiência, produtividade, etc..

Sabemos que Darwin observou este tipo de comportamentos nos animais irracionais mas talvez, digo eu, a teoria da evolução seja de difícil aplicação à nossa espécie dado um pormenor ou outro da complexidade humana, mas só talvez.

No entanto, inegável é que estes "iluminados" chegam aos governos e não acertam numa que seja, é humilhações dia após dia em directo no jornal da noite, "pois eu sei que afirmei isso na semana passada mas entretanto a conjuntura alterou-se...", e o pessoal todo a rir-se alarvemente deles como quem lhes cospe nas trombas, agora venham lá dizer que nós é que somos uns irracionais e que o modelo é que está certo e que se agíssemos todos como "era suposto" (=máquinas) isto corria tudo às mil maravilhas, vá cabrões!!
 

E pronto, foi a primeira sessão (e provavelmente a última) da terapia assexuada e auto-didata para tentar resolver os traumas da minha formação, muito obrigada e até para a semana.

 

* Aquilo dos quatro anos é mentira, na verdade foram seis só que os outros dois que lá passei não custaram tanto porque eu nunca ia às aulas e só fazia coisas fixes. Chumbava como o caralho, é certo, mas, pá...

 

Buraco tapado por Citadina às 15:18
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De Cosmopolita a 14 de Maio de 2008
Estou absolutamente de acordo com o que a Metade diz. Das melhores recordações que se guardam são as da faculdade, por maior merda que possa ser o sistema ou alguns ilustres professores que teimam em ver apenas a floresta (e o seu umbigo, leia-se bolsa, cargos políticos, etc) como se esta não fosse feita de árvores...
Ainda hoje me surpreende na Citadina este seu vulcão interior que de vez em quando entra em erupção. Não fosse ela conhecida na faculdade como "selvagem e perigosa". Por que seria? :)
Por isso, deixo aqui um voto para que haja mais sessões destas.

PS. E introduzir factores, coeficientes de correcção nalguns dos vossos cenários? Peçam a engenheiros que vos ajudem nisso. :)
De Citadina a 14 de Maio de 2008
É como eu. Eu também estou ABSOLUTAMENTE de acordo e não trocava aquelas vivências por nada, só desejava que as matérias tivessem sido menos deprimentes, porque, tás a ver, uma jovem adulta a pensar que o pior da adolescência já passou e depois, pumba, leva com aquilo... Pronto, tinha expectativas diferentes, mais optimistas, o que é que eu hei-de fazer? Já sabes que o sonho comanda a vida e tal, e aquela mentalidade institucional era castradora, pá, CASTRADORA, consegues avaliar o que isso faz a uma pessoa como eu?! Claro que tive de escoicear.
Pode não parecer, mas este post foi a minha maneira de o recordar com saudade...
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