Terça-feira, 17 de Junho de 2008

A tal manhã soalheira

Esta é a tal em que eu prometi voltar à actividade blogueira.

Agora já sabem que eu sou uma Velha do Restelo, caso não tivessem intuído antes. Sabem-no pelo menos desde que me assumi e depois fugi cobardemente sem sequer ficar cá para ler os vossos comentários desdenhosos, que não fizeram, decerto porque a desilusão foi paralisante, ou mais provavelmente porque a revelação foi assaz óbvia e só mereceu bocejos.

Mas aqui têm uma segunda oportunidade. Eu sou uma Velha do Restelo com 36 anos feitos sob o signo de Gémeos, ou seja, muito recentemente. Deplorável e muito deprimente, dirão vocês, mas eu não acho.

Acontece que eu até tenho um certo orgulho em me ter transformado numa Velha do Restelo, um daqueles orgulhos desafiantes, arrogantes se quiserem, petulantes até. Um orgulho rebelde, insolente. E isso tem tudo a ver com aquela faceta de Gémeos que gosta de tudo o que parece mal. É como um vício.

Parece. Mas não é. O Velho do Restelo, o autêntico, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, porque não leram com atenção os Lusíadas e se limitam a repetir os chavões que ouvem na televisão, não é um retrógrado com horror ao progresso, mas sim e apenas um céptico a respeito das ilusões vãs que germinam tão bem nas mentes dos desesperados, vendidas pelos poderosos para servir somente os seus interesses privados.

Os "visionários" usam a carne para canhão, é só. A carne queima depois de estraçalhada e por fim desaparece. Ficam os "grandes feitos" para quem não os praticou. E é isto que me mete nojo.

 

Em suma, aos 36 anos vejo que ultrapassei largamente a fronteira do cepticismo e caminho a passos largos para o reino da descrença na nobreza do ser humano.

Acho mesmo que a nobreza humana - falo de altruísmo, de brio, de generosidade e de solidariedade - está hoje em dia reservada a quem não pode aspirar ser mais nada que altruísta e solidário. Ou seja, está em vias de extinção.

Em mim, pelo menos já não existe, e daí eu ser uma jovem Velha do Restelo.

Buraco tapado por Citadina às 12:57
Link do post
De A metade a 18 de Junho de 2008
O que dizer… do elogio do cepticismo e da descrença na natureza humana, desprezo da ilusão? Talvez focar-me na fronteira ténue entre as duas a ilusão e a esperança.
A ilusão de que a natureza humana é iminentemente boa ou a esperança de que não seja tão má como alguns dos exemplos da realidade sugerem…
Às entradas dos blogs sabe sempre melhor comentar dois ou três ao mesmo tempo….
A resposta à altura da entrada anterior seria em verso, com a mesma métrica de Camões mas, confesso não tenho nem o engenho nem a arte e, sobretudo não encontrei tempo para tal. Volto ao mote inicial.
Não renegando o poder dos sonhos (afinal são eles que nos podem fazem ir mais além), também não renego que há quem disso se aproveite para manipular a carneirada e se fazer sobressair em glória alicerçada em sangue e suor alheio.
Não me parece que nos dévamos viciar em qualquer dos dois, sonho/ilusão ou cepticismo. Em qualquer dos casos os efeitos são nefastos e o desmame muito doloroso.
O ideal seria um cocktail com doses variáveis em função das situações…
Dizes-te um(a) velho(a) do Restelo, mas enquanto “voz do passado” que já foi mais cor-de-rosa, relembro o JC: “Felizes os pobres, que será deles o reino dos céus”.
Custa-me a crer que se referia aos pobres de espírito, antes acho, que se referia àqueles que conseguem encontrar felicidade nas pequenas coisas…

E vai daí a felicidade, também pode estar muito sobrevalorizada.
De Citadina a 19 de Junho de 2008
E se eu for uma desiludida esperançada?
Não era surpresa nenhuma, pois não?

Quanto à felicidade, para mim não passa de uma memória. Uma pessoa quase nunca se apercebe de que ESTÁ feliz, mas limita-se a considerar que em determinado momento FOI feliz, seja por comparação com outros momentos, seja por uma deturpação emocional que o passar do tempo crie. Lá está, é como uma memória querida, romantizada.
Paradoxalmente, faz parte do real, TEM DIREITO a fazer parte do real, da história, podendo ser imaginária.
Resumindo, é uma cena do caraças (!!), e talvez daí a tendência para a sobrevalorização. Ou o merecimento...

Beijo grande!!
De a metade a 19 de Junho de 2008
O meu problema sempre foi acertar com a dose do referido cocktail. Sempre para oexagero de um dos dois.
Comentar:

Mais

Comentar via SAPO Blogs

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.

Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Dezembro 2010

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
16
17
18
19
20
25
26
27

Posts por autora

Pesquisa no blog

Subscrever feeds

Arquivo

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Abril 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Dezembro 2006

Tags

a vida dos outros(31)

açores e madeira(7)

ambiente e oceanos(21)

aniversários(19)

artes(6)

autarquias(12)

auto-recriações(24)

autores(7)

bem-estar(11)

blogs(73)

capitalismo(8)

catástrofes(4)

charlatonices(2)

cidadania(14)

ciências(3)

cinema(18)

citações(38)

clima(7)

condomínio(2)

curiosidades(26)

democracia(32)

desemprego(13)

desporto(22)

dilectos comentadores(5)

direitos humanos(11)

direitos liberdades e garantias(39)

e-mail e internet(6)

economia(27)

educação(8)

eleições(14)

emigração(5)

empresas(3)

estados de espírito(60)

europa(2)

eventos(33)

excertos da memória(24)

fascismo(9)

férias(25)

festividades(29)

fotografia(12)

gatos(10)

gestão do blog(15)

gourmet(3)

grandes tentações(11)

hipocrisia(3)

homens(6)

homofobia(17)

humanidade(8)

humor(24)

igualdade(20)

impostos(5)

infância(7)

insónia(6)

int(r)agável(25)

intimismos(38)

ivg(17)

justiça(17)

legislação(17)

lgbt(71)

liberdade de expressão(13)

língua portuguesa(7)

lisboa(27)

livros e literatura(21)

machismo(3)

mau gosto(8)

media(3)

mulheres(17)

música(35)

noite(5)

notícias(22)

óbitos(5)

países estrangeiros(19)

personalidades(9)

pesadelos(5)

petróleo(4)

poesia(9)

política(86)

política internacional(30)

por qué no te callas?(9)

portugal(31)

publicações(6)

publicidade(9)

quizes(8)

redes sociais virtuais(9)

reflexões(58)

religião(19)

saúde(6)

ser-se humano(15)

sexualidade(9)

sinais dos tempos(8)

sociedade(45)

sonhos(6)

televisão(23)

terrorismo(4)

trabalho(20)

transportes(7)

viagens(19)

vícios(13)

vida conjugal(17)

violência(4)

todas as tags

Quem nos cita