Há bocado produzi um cagalhão que cheirava a pão quente. Ou dois. Muito bom. Juro. Eu sei, extraordinário. Também produzi um post que é, em si, um autêntico cagalhão. Isto está tudo ligado. Nada acontece por acaso.
Antes que me esqueça e para depois não dizerem que não sabiam, favor mandar gravar (em vez daquelas merdas do "esposa, mãe e filha querida"):
"Teve um gato que a salvou da morte cerebral mais que uma vez. Infelizmente o gajo já morreu há uns bons anos [*], portanto era de esperar que isto acontecesse."
[* Fez há uma semana sete, e eu ainda tenho muitas saudades.]
Uma década de vida em comum com a Cosmo.
3652 dias de uma união sustentada por um imenso amor, que não sendo assim já as asperezas da vida tinham dado conta das nossas resistências individuais.
Uma boa data para ressuscitar este blog tão abandonado nos últimos tempos, principalmente por mim; uma data por todas as razões e mais alguma, assinalável.
Eu já só volto aqui lá para Agosto, com grande probabilidade.
Entretanto enceta-se hoje uma nova década nas nossas vidas. Que nos seja leve e prazenteira, que o resto, tudo o resto, já nós temos.
Ao ler este post soou-me na mente a campainha da evidência porque o texto da Vieira do Mar resume bem as minhas experiências pessoais no mundo da corte heterossexual (sim, também lá andei, ainda hoje me pergunto a fazer o quê).
Normalmente resisto a generalizar, ou a normativizar, o-homem-sexual-da-minha-geração (e de outras também...), mas se existe alguma coisa parecida com factos empíricos, então estamos perante um. E, turns out, não sou só eu que o digo.
A minhã avó materna tinha um sonho. Nascida em 1911, assistiu pela televisão à alunagem da Apollo 11, cujos 40 anos se comemoram hoje, e ficou fascinada com as fotografias da Terra vista do espaço. Ouvi-a dizer várias vezes que não havia coisa mais linda. O seu sonho era fazer uma viagem espacial, para ver com os seus próprios olhos a magnificência do planeta azul. Daqui a poucos dias terão passado doze anos desde o seu falecimento, mas sei que hoje teria um prazer especial em ver os telejornais para assistir mais uma vez às imagens que tanto a fascinavam. Eu estarei a ver por ela.
Mudar a fralda é muito bom, é um alívio do caraças, qualquer mulher sabe isso e nem precisa de passar por experiências de maternidade.
Nove anos, quase três mil e trezentos dias e nem todos os erros que cometemos, nem a maldade com que outros utilizaram esses erros contra nós e contra os que amamos, nem todas as infelicidades, azares e dificuldades nos conseguiram separar nem destruíram o amor que nos une. Acho que congratularmo-nos está na ordem do dia.
A gata voltou a não lavar a louça, como lhe tinha sido incumbido (Sim, louça, uma herança fonética da minha família do Porto. Ainda não consigo dizer loiça, passados trinta anos, acho que é de desistir...).
Além de não participar nas tarefas da casa, o felino faz questão de arranjar todos os dias umas novas para mim. Se não a escovo, limpo-lhe o vomitado, se a escovo... bom, escovo-a, é uma tarefa.
Gosta muito do meu sofá mas só quando eu estou lá sentada. Quando não estou (sequer em casa) gosta dos outros todos e eu sei isso porque eles agarram muito bem o pêlo dela.
Também gosta muito da minha cama, mas sabe bem que a cama não é só minha e a co-proprietária faz questão de a partilhar comigo em exclusividade (mesmo quando vive num outro quarto do oposto hemisfério, com vista para o Índico). Por isso contenta-se com os sofás e os tapetes, em recorrentes e energéticas crises de alopecia.
Considera tudo seu e eu, desterrada emocional, não tenho forças nem vontade de contestar. Que tenha bom proveito. Eu vou de férias. Volto no dia 16. E nessa altura limpo a casa.
Inicia-se uma nova fase na vida das autoras deste blog. A Cosmopolita está agora em Moçambique, onde irá permanecer até ao fim de Maio. Depois de um ano e meio profissionalmente difícil, vai-se restaurando a estabilidade na nossa família, muito à custa deste sacrifício dela, de mais uma vez se expatriar.
Eu, por enquanto e até me habituar, na medida do possível, à ausência dela, sinto-me frágil.
Não gosto que me chames criança. Só eu é que me posso chamar criança.
Estranhando a nossa ausência? Eu não vos terei ensinado nada? NUNCA estranhem a nossa ausência, nem..., aliás, principalmente quando tiverem passado três meses e começar a cheirar a qualquer coisa esquisita. Poupar-vos-á uma carga de trabalhos, vos garanto.
Podem, no entanto, desejar-me as melhoras telepaticamente que eu sinto, sou dessas taradas, ou às vezes dá-me gozo fingir que sou, pronto.
Melhor farão, no entanto, em desejar-me as melhoras rapidamente pela saudinha (mental) da Cosmo, essa santa mulher abnegada que tem que me aturar aos berros do sofá anunciando que preciso de mais chá e, ainda pior, suportar o ataque de tosse radioactivo que se segue a cada berro, bem como toda a sua produção tóxica.
Faz hoje 18 anos que nasceste, meu filho, já és um adulto com todas as responsabilidades e direitos inerentes.
Dei-te um nome que evoca em mim os vales solarengos dos Cárpatos no Verão, cheios de relva e flores selvagens, frutos silvestres, abelhas, pássaros e riachos a correr. Daí, por vias indirectas, veio o nome Bluebird.
Vieste quando já não te esperava, embora te tivesse sonhado muitas vezes. Parece-me que ainda foi ontem, não me dei conta de o tempo passar. Passeávamos juntos à beira-mar, tu no teu carrinho, a deitar fora todos os chapéus cada vez que me apanhavas distraída. Ou a vir comer-me à mão o ovo cozido, o tomate ou fruta que levava para a praia. E a gatinhar mar adentro sem nenhum receio deste, com a mana a fazer também de tua mãezinha. Lembras-te? Claro que não, eras tão pequenino!
És tão sensato desde pequeno, tão introvertido no que te diz respeito e ao mesmo tempo tão capaz de fazer rir todos.
Adoro-te! Muitos parabéns por teres nascido.
Há bocado levantei-me da minha cadeira e fui à casa de banho.
Fiquei lá um bocado a olhar para o chão, enquanto esperava que o meu corpo produzisse mais um episódio da história oculta da escatologia (há imenso tempo que queria ultilizar esta palavra num post e não estava a conseguir).
Quando aquilo acabou, pus-me de pé e olhei para cima, para o vidro fosco e sujo da pequena janela junto ao tecto e pareceu-me que o sol se tinha escondido entre as nuvens e que o tempo estava de novo escuro como se o Inverno tivesse decidido voltar.
Quando cheguei cá fora, precipitei-me para uma janela panorâmica e verifiquei com alívio que não era nada, o sol continuava ofuscante de radioso.
Pensei: não me posso distrair desta maneira. Se deixo de o vigiar atentamente, até ele se configurará para me deprimir.
Dantes, em regra, todos os desejos que pedia a uma estrela cadente ou quando trincava uma vela do meu bolo de anos ou a pestanas que apertava com força entre o indicador e polegar se realizavam.
Um dia deixou de acontecer.
Ontem comecei a sonhar algum tempo antes de adormecer.
Sonhei que os anos 80 me perseguiam a alta velocidade, num veículo de vidros fumados onde se escondiam todas aquelas modas carentes de sentido estético e sobriedade psicotrópica.
Acordei sobressaltada ainda antes de cair no primeiro sono.
Constatei que não era sonho, era a realidade a acontecer no meu quarto: a minha mulher dizia-me que tinha encontrado numa velha agenda um poema que (lhe?) escrevi há anos e que era muito bonito.
"O que dizia o poema?"
Não sabia. Deu-me um comprimido para dormir e diz que o recitei toda a noite.
Hoje de manhã acordei com a cara inchada, mas (ainda) não me lembrava de nada.
Tenho estado a ler o livro referido neste post e registei algumas passagens curiosas (e eventualmente controversas - you tell me).
"O jazz, lembremos, está erigido sobre dois pilares. O espaço harmónico e a improvisação; a plataforma sonora e constrangida e a presença de uma melodia e de um ritmo libertadores: norma e dissidência. O jazz, como todos os sistemas estéticos, é definido por este jogo intermitente de imposição e oposição. Mas em todos os campos da alma – quer falemos de música, de literatura ou de amor – cada indívíduo, todos nós, sonha, sonhamos, praticamente exigimos, a partir da norma, a improvisação. O que esta manifesta é um impulso para a liberdade, para o próprio critério. Esse é o atributo máximo do jazz.
E, nesse sentido, também o jazz é como o amor. Porque é verdade que não há nada mais opressivo do que um terreno limitado, mas não há nada mais apaixonante do que subvertê-lo. O amor improvisa-se a cada dia, e a verdade é que, se quisermos sobreviver sentimentalmente, devemos converter-nos em dissidentes do amor, na vanguarda do amor, aprender e executar maneiras diferentes de o interpretar.
A sociedade ocidental está pejada de junkies do amor. Ou melhor, junkies de um conceito de amor muito particular que não tem nada a ver com a ideia de uma relação livre, sã, consensual e mutuamente respeitosa entre duas pessoas, mas sim com a de uma desordem esgotante e conturbada que prejudica, inicialmente, o bem-estar emocional e, por fim, a saúde e a integridade física. Nesse sentido, o amor é a droga mais dura.
O amor a que este junkie tão especial fica agarrado está enfeitado com as ilusões do eterno. Todos os especialistas da paixão no-lo dizem: não há amor eterno se não for contrariado, não há paixão sem luta, mas esse amor só termina na última contradição, que é a morte. Há que ser Werther ou nada. Há também muitas maneiras de se suicidar, uma das quais é a dádiva total e o esquecimento da própria pessoa. Aqueles a quem um grande amor afasta de toda a vida pessoal empobrecem-se e empobrecem, ao mesmo tempo, aqueles que escolheram para objecto do seu amor. Os que dão tudo por amor têm, necessária e paradoxalmente, o coração seco, pois está afastado do mundo.
E, como cereja deste bolo, surge como decoração e bem no alto o grande mito do século XX, o do amor eterno que afirma que o amor verdadeiro, o sublime, o autêntico, o original (recuse as imitações), ultrapassa tudo e tudo pode. Este mito deixa-se ver na maior parte dos nossos filmes e romances. Bem como na complacência que despertam e nos sonhos que geram e sustentam, e bebe da mesma fonte que a crença em que o amor é mais destino que vontade, que se sente mais do que se constrói e que nos há-de consumir com o mais puro e verdadeiro fogo que arrasa à sua passagem, com felicidade, as convenções, a sociedade e a moral. Racionalmente, todos e todas sabemos que a paixão e o desejo acabam, que a vida em comum é complicada e implica uma negociação constante, que a convivência transforma irremediavelmente o desejo selvagem em simples afecto, por mais que este possa ser muito mais profundo que os laços físicos. Sabemos que o amor é uma coisa, mas fantasiamos com outra: um amor eterno, único e permanente no tempo. Esta é uma fantasia muito perigosa porque conta com o apoio social e se refere à ideia de amor para toda a vida que impede o realismo afectivo e exige de quem ama uma entrega incondicional, sem reservas, auto-destrutiva.
Uma relação dependente dá-nos a sensação de termos pelo menos uma pessoa com quem podemos contar e de pertencermos a alguém. Uma certa segurança emocional, por mais artificial que seja.
Mas alto aí: não existe família não problemática, dado que todas o são.
...Porque a maioria das pessoas, (...), cresceu em famílias com problemas mais ou menos graves e, se cada um de nós pensasse que a raíz dos nossos males foi adubada no fértil terreno das disfuncionalidades da nossa casa, estávamos feitos. É que se cada um de nós responsabilizar outrem (família, chefe, namorado, sociedade...) pelos seus problemas, estaremos a delegar nesse outro a sua solução, e assim não há forma humana de sair do atoleiro.
Mas há uma coisa muito simples de entender:
SE NÃO É FELIZ NUMA RELAÇÃO,
ESSA RELAÇÃO NÃO LHE SERVE.
E ponto final.
Só pode dar-se e receber-se livremente. Por isso, é muito perigoso equiparar o amor à posse. Uma pessoa deve estar ao nosso lado porque decidiu e não porque lho imponhamos....... Desta forma, não se pode exigir o afecto ou o compromisso só porque “tu és meu” ou “eu que te dei tanto” ou ninguém vai amar-te como eu”. As chantagens sentimentais nunca conduzem a parte alguma. Sufocam quem as recebe e denigrem quem as exerce."
A propósito de felicidade e de r(a)lações afectivas, deixo-vos um video com uma canção da Maria Bethânia de que gosto particularmente. Como diz Gabriel Garcia Marques no "Memórias das minhas putas": "Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco". Abram então as janelas!
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